17 de julho de 2017

O Valete e a Cortesã

Existem dois antídotos para a inquietude e nenhum deles é o amor. Dela nos livramos quando rimos de desprezo ou quando choramos de emoção. Então, se o amanhã te amedronta, vai e te acha um idiota do qual rir; percebe toda a leveza e desinteligência de que o mundo é feito, ri de todos os acasos e de todas as incompetências que te trouxeram até aqui: descansa sabendo que o futuro é acima de tudo bobo. O segundo antídoto requer em nós a grandiloqüência cavernosa da alma: nosso choro deverá ser o eco do das deusas que perderam o filho. Inconsoláveis, desesperançosos, muito além da vida e de todo bem e mal devemos despejar nossas lágrimas. Os poetas têm a fama de tristes porque entre eles é mais comum esse segundo tipo de cura, a cura através da tragédia. Careciam de enormes consolos, esses espíritos afiados: suas palavras são o presente de um convalescente — presente que herdamos. Em sua homenagem, engrandecemo-nos e, benzidos da maternalidade cósmica, renascemos de olhos ainda mais abertos.

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