Finalmente dei uma trégua à angústia, à raivosa tristeza de viver.
O sentimento, em si, permanece - quero que nunca morra! -, mas permito-me, pelo menos nesse exato momento em que escrevo, uma calma para pensar e admirar.
Pensar e admirar com calma é um dos maiores pequenos prazeres que existem.
E, pensando e admirando-me agora, por que é que chamamo-os de pequenos?
Se são, não só os maiores, mas - muito provavelmente - também os únicos.
Um brinde à chuva de outono - nem me recordava que estávamos no outono! -; um brinde aos sopros de vento (que pra mim constantemente parecem um sopro divino, empurrando-nos pra frente, com aquele friozinho que nos congela, mas que também nos renova); às nuances de pensamentos daqueles que têm o dom, e a maravilha, de conseguir pensar de uma maneira não-reta, não-geométrica; um brinde às pequenas - e às grandes! - palavras que nada fazem, a não ser se juntar (tais quais os átomos formam, numa ingenuidade só deles, toda a matéria que nos cerca, formam a vida humana as letras...); um brinde às universidades, aos trabalhos, às contas; às coisas adultas; à imaginação. À vida.
Pois eis que ela, eles, ele, Ele, nós, ou Eu - esse troço para o qual eu não tenho outro nome senão o artístico "Deus" - é, em sua imperfeição, perfeito.
Um brinde, então, às imperfeições, sem as quais nada seria perfeito.
Ao sorriso, e ao frio. Às carências, e ao amor.
Ao acaso, que é exatamente a mesma coisa que o destino.
Ao infinito, e ao belo.
Às reticências, e ao fim.
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