31 de janeiro de 2013

(3) Descoberta tardia

Escravos da verdade são escravos também.

29 de janeiro de 2013

Sobre os traumas

As crenças definidoras de caráter - aquelas que as pessoas empunham com mais força e vigor, como bichos assustados correndo por suas vidas - não são baseadas em grandes e majestosas verdades, como nos parece indicar a quantidade enorme de energia que é empreendida ao defendê-las. De fato, na idade em que são escolhidas, a verdade é coisa de pouquíssima importância. Muito mais provável é que essas crenças sejam baseadas em concepções mal formadas e levianas, infantis mesmo, sobre como as coisas deveriam ser - nunca sobre como as coisas são, porque o objetivo é precisamente escapar de algo que é muito assustador, ou muito doloroso, ou muito feio. Haverá bicho-homem nesta terra para o qual isto não se aplique? Para o qual a verdade seja a causa de suas ações e sentimentos? Mas não parece que este animal precisaria sofrer tanto ou mais quanto aquele que antes descrevi? É um animal que sofre, esse homem...

A diferença entre fazer um cálculo e criar um teorema

Escrever é pegar uma partezinha da vida e recortá-lá até que se torne mais ou menos universal.

Por um bom uso dos imperativos

"Eu acredito, do fundo do meu coração, que você não deve fazer isso. Não faça isso."

"Quando você fala assim, eu sinto como se estivesse recebendo uma ordem, e isso me ofende porque eu acredito que as pessoas devem se esforçar para ajudar os outros a tomar suas próprias decisões - e não empurrar-lhes suas vontades!"

"Mas, querida, você está recebendo uma ordem - uma ordem que vem do fundo do meu coração e que tem por objetivo o seu próprio bem. Não confunda receber ordens com a obrigação de cumprí-las: você só deve cumprir as ordens que julgar adequadas. A sua crença de que as pessoas devem tomar suas próprias decisões, dela eu partilho!, mas considero-a um pressuposto da comunicação - e não seu objetivo. Permitamos o uso dos imperativos (assim como dos gritos, dos choros e dos socos), quando forem adequados e sinceros, pois, afinal, não precisamos temê-los, já que estamos entre amigos, todos vacinados. Continuarei a lhe dar ordens, pois confio na sua capacidade de desobedecê-las."

23 de janeiro de 2013

O poder das inferências

“Sou contra cotas raciais, porque não acredito que as pessoas de outras raças são inferiores. Sou a favor apenas de cotas sociais.”

22 de janeiro de 2013

Nós, os desrespeitadores

Este mundo nunca testemunhou um ato de desrespeito. Apenas aconteceu de respeitarmos em maior medida algo diferente. Somos, afinal, criaturas do respeito! Todo desrespeito aos pais - incluindo Deus - é um respeito maior a si mesmo. O desrespeito a uma ordem é um respeito a uma ordem maior. Apenas isso podemos fazer: disso não podemos fugir. E é assim, meus amigos, que devemos lidar com nossos sentimentos e os de nossos companheiros: se eu alguma vez te desrespeitei, foi apenas por um respeito maior a ti.

21 de janeiro de 2013

That awkward moment when…

A sua versão adolescente ao pôr do sol têm mais views do que o clipe oficial.

20 de janeiro de 2013

A seriedade não é uma escolha

As melhores coisas que fiz, fiz brincando.

18 de janeiro de 2013

Não à “reciprocidade”

Desde o início, ele queria que ela fizesse X por ele. Não tinha, no entanto, coragem pra mandar nela (como queria). Então, ele foi lá e fez X por ela. Ela, por ser uma boa moça, se sentiu na obrigação de retribuir o favor; foi lá e fez X por ele.

17 de janeiro de 2013

E nunca antes disso.

O caráter de um amigo deve ser julgado no momento em que vocês discordarem.

15 de janeiro de 2013

Os novos ateus

Eu não preciso que Você me perdoe. Isso é algo que eu mesmo posso fazer.

O objetivo nunca é não sentir

Lá se vai o idiota, tentando não sentir frio. Sabem o que faz? Ele tenta controlar o tremelicar dos dentes!

Nossos filhos gritarão em coro

O que a gente faz para se livrar desse mal estar? O mesmo que uma ave de penas impermeáveis faz para se livrar da água: chacoalha-se!

Meus amigos doentes

A Saúde é uma donzela esbelta, voluptuosa, independente e poderosa. Se você é apaixonado por ela – e faz bem em sê-lo! –, então você deve flertar com ela, cortejá-la, conquistá-la. Deve tornar-se tão atraente que ela não tenha outra escolha a não ser deitar em seus braços.

Mas, se você age como um mendigo, esmolas é o que receberá.

14 de janeiro de 2013

Ou seja

Os sentimentos que temos em relação às ações dos outros são, de alguma maneira, menos intensos que os sentimentos que temos em relação aos sentimentos dos outros. Isso se dá, porque as ações podem contradizer os sentimentos (por coação, insanidade, covardia ou confusão), mas os sentimentos não podem contradizer a si mesmos.

Será?

13 de janeiro de 2013

O básico do básico

Ela não quer que você não a traia. Ela quer que você não a queira trair.

12 de janeiro de 2013

Saber distingüir os inimigos

Cuidado, companheiros, muito cuidado! Recentemente passou a se considerar aceitável uma raiva antiga e profunda, da qual vale a pena nos afeiçoar, para dela não sucumbir.

Vocês os conhecem: esses peixes amargurados que não perdem uma oportunidade de esbravejar, os dentes de fora e o nariz arrebitado, a maneira como são mortos os pandas, caçadas as baleias, depenadas as galinhas, depeladas as raposas, pisoteadas as baratas. Sim, todos nós os conhecemos: eles vivem a vida como se fosse uma punição, porque, afinal de contas, são incapazes de se livrar do pesadíssimo sentimento de que eles fazem mal. Assumem muitas formas, esses assassinos impotentes – como desejam mortos os seres humanos! Em nosso século, costumam atender pela cor verde. Eu lhes disse que os conheciam. Estão, afinal, por toda parte. E não se engane: sempre estiveram!

O ódio que expressam pela humanidade, como vocês devem saber, é apenas um exagero mal feito e deformado do ódio que sentem de si mesmos. Como sofrem! essas pobres criaturas. Odeiam o lugar que ocupam, e culpam-se inclusive do ar que respiram! Se pudessem, escolheriam deixar de existir, para permitir que criaturas mais dignas – como esses inocentes gatinhos – vivam em seu lugar. Como é pesado viver quando a vida é um peso.

Meus companheiros, é preciso que nós – os que ainda respiramos sem culpa, e que não temos medo de deixar no chão nossas pegadas – nos vacinemos contra essa doença. Ora, é preciso mesmo que nos tornemos alérgicos a ela. Rejeitamos essa e todas as outras formas de antropofobia.

Nunca nos esqueçamos que os arcos de violino são feitos de crina de cavalo! E eu não me importaria se fossem feitos de chifres de unicórnio ou de asas de pégaso. E como eu poderia?! Como eu poderia me importar, se deles dependem a quinta, a nona, e todos os grandes?

Se você é incapaz de amar a humanidade por si e por seus amigos, que pelo menos a ame por Elisa.

11 de janeiro de 2013

A crença nos leitores

Para quem escrevemos?

Nas noites frias, foi a crença nos bons leitores que nos manteve aquecidos, a ti e a mim, quando nem em nós mesmos podíamos confiar. Os nossos leitores, no entanto, por mais que sejam inventados, serão sempre leais. E sempre nos conduzirão de volta. De volta pra onde? De volta pra nós.

Estarei te esperando, quando voltares. Porque sou teu eterno leitor. Fica bem.

9 de janeiro de 2013

Pela legitimação dos vícios

Ao Sr. Deputado Federal Osmar Terra (PMDB-RS), que escreveu ao Jornal O GLOBO em 31 de Dezembro de 2012, página 17.

(Infelizmente não consegui manter a compostura até o fim desse texto. Uma pena, porque tenho coisas realmente importantes para dizer, e acho que ainda vai demorar alguns anos até que eu as consiga dizer de maneira satisfatória. Fica publicado aqui esse rascunho.)

Vou fazer o possível para me abster de comentar as inúmeras falácias cometidas ao longo do texto do Sr. Deputado e hei de me concentrar nos poucos argumentos de que se utilizou para defender sua rígida postura de enfrentamento às drogas. Não posso, no entanto, deixar de comentar a ignorância – ou talvez eu deva dizer: a maldade! – com que se confundem, no texto, correlação e causalidade. O exemplo usado pelo autor é, em si, prejudicial ao argumento dele: diz da Suécia, primeiro, que adotou medidas duríssimas de enfrentamento às drogas e, ainda, que lá “morrem assassinadas 30 vezes menos pessoas, proporcionalmente, que no Brasil”. Primeiro: não existe ligação causal entre esses dois fatos. Segundo: o autor segue: “Em outras palavras, se aqui tivéssemos as taxas de homicídio da Suécia, 48 mil pessoas deixariam de morrer assassinadas a cada ano”. Ora, mas como ousa?! Como ousa falar assim dessas mortes, como se fossem tão evitáveis, tão levianas, tão estúpidas como o senhor as descreve! É ultrajante a maneira como pretende colar no seu argumento a idéia de que enfrentar drogas combate homicídios. Se isso fosse verdade, pelo argumento que o senhor mesmo usou, nós – e todos os outros países que enfrentam as drogas, como a Suécia – teríamos taxas de homicídio baixíssimas! Nós não temos. Sabe por quê? Porque a sua correlação estúpida não é suficiente pra causar nada, por mais que você queira, por mais que você escreva bem, por mais que você distorça as coisas, por mais que você fale “em nome da ciência”.

Tirado isso do meu peito, vou tentar prosseguir ao único argumento usado pelo senhor deputado: a saber, que a dependência química leva a uma mudança estrutural definitiva no cérebro que faz com que os interesses e ações do indivíduo sejam direcionados na busca pela droga, em detrimento de todas as atividades produtivas. Segue-se disso que uma postura conivente para com as drogas seria contra-producente, pois geraria custos humanos (perdendo-se indivíduos produtivos) e financeiros (com gastos na área de saúde) extraordinários e irrecuperáveis para o país. O autor chega ao ponto de reconhecer que nosso cérebro possui um “mecanismo ancestral de sobrevivência”, localizado no “centro de recompensa”, e que todas as drogas, “do cigarro ao crack, passando pelo álcool e a maconha”, atuam sobre essa região, com as mesmas conseqüências danosas anteriormente descritas. Ora! Sabe o que mais atua sobre o centro de recompensa do nosso cérebro? Gordura, por exemplo. Bacon e cheddar. Sabe o que mais? Dinheiro. Sabe o que mais? Sexo. Sabe o que mais? Paracetamol. Não é possível que você tenha chegado ao ponto de admitir que todas as drogas são danosas (curiosamente, no entanto, o senhor não defende a criminalização do álcool nem do tabaco), sem com isso perceber até onde vão as limitações do seu conceito de Droga. Você argumenta, inclusive, que as grandes corporações, uma vez legalizadas as drogas, vão “traficar” os baseados. Ora, ora, ora! Pois sabe o que me irrita mais nisso tudo? Ninguém fala da criminalização das casas lotéricas! que corruptamente extorquem dinheiro da população: desviam-no, essencialmente, de bens muito mais essenciais. Adivinha também qual é a classe social que mais perde com isso? Acertou. Ninguém fala da criminalização dos aditivos químicos aos doces de crianças, ou dos joguinhos de iPod que exigem que você “compre créditos” pra continuar jogando. Ninguém fala da criminalização dos Arcades. E você sabe por quê? Porque seria ridículo. Ridículo como você. Você despreza o valor da área do cérebro que você mesmo diz ser importante estudar! Você, apesar de cientista, continua lutando contra inimigos internos, continua tiranizando partes de si, continua sendo um desprezador de si mesmo. É imensurável, eu digo, imensurável! a importância que a Raspadinha do Rio tem para a população. Ninguém nunca vai conseguir calcular a esperança que jogar na loteria permite a alguém que perdeu tudo. Ninguém nunca vai conseguir calcular o prazer de uma gelada depois do expediente abusivo do trabalho: e a calma que isso gera?! Imensurável! E o que falar dos poetas, viciados em amor? Dos amantes, dos viciados em sexo? Dos empresários, que “fazem o país crescer”, nitidamente viciados em dinheiro! O seu argumento é velho. Há séculos, há milênios a humanidade luta contra si mesma: e tem vencido! Você, que é médico, deve conhecer a história do ratinho: com acesso a um botão que ativava impulsos ligados à região do orgasmo em seu cérebro, ele apertou o botão até morrer de fome. Porque o prazer que sentia era, sim, mais importante que as suas funções vitais, era, sim, mais desejável. É incalculável a saúde que as drogas trazem ao país. Pois vocês continuam insistindo aí, feito papagaios, que “temos que lutar contra o alcoolismo”, que “temos de lutar contra o tabagismo”, que “temos de lutar contra o homossexualismo”, que “temos que lutar contra a violência”, mas vocês são todos tolos. Quantos não deixam de ser homicidas porque têm acesso à droga? Quantos não se deparam com a escolha entre bater nos filhos e fumar unzinho? Vocês são PODRES caso prefiram um abstinente covarde e violento. Vocês são podres, podres, podres. Um copo de álcool pode deixar mais calmo, pode fazer um melhor motorista. Ora, quer brincar de correlação? Por que não falamos dos EUA, que é o país que mais gasta na guerra contra as drogas e, veja só, é o país onde mais adolescentes matam em massa em suas escolas. DIVERTIDA essa brincadeira, né? NÃO. Seu merda.

8 de janeiro de 2013

Embriagar-se na medida certa

É de tanta importância, para o bom estudioso, saber quando parar de ler quanto é, para o bom boêmio, saber quando parar de beber.

7 de janeiro de 2013

Desejo não é uma troca

“Se os homens conhecessem o valor da gentileza, não haveria tantos encalhados (sic) por aí”

Leve esse pensamento a sério, e você se tornará uma puta. Uma puta paga com moedas de gentileza, mas uma puta ainda assim.

Dos mais agradáveis paradoxos

Encontra o lugar onde és servo do teu corpo - e lá te descobrirás Senhor.

3 de janeiro de 2013

Profundos demais

Todo alpinista retorna à planície. Também nós, escavadores da humanidade, precisamos fazer o mesmo, e voltar periodicamente à superfície. Não há vergonha em admitir ser sufocante o ar aqui embaixo. Lembre-se que Zaratustra não tinha valor nenhum até descer de sua caverna.

As origens pantanosas das virtudes

Nada mais fácil do que manter-se casto em uma cela individual.
Nada mais fácil do que manter-se profundo em um buraco sem escada.

Os patéticos e a sensibilidade

O mais assombroso e desesperado grito de dor de um homem é apenas um teatro ridículo para o surdo.