14 de outubro de 2009

Algodões-Doce

Sabe qual é o problema com esse blog?


O problema é que ele é um ponto cego. Virou um ponto cego e nulo. A minha desorganizada festa irracional do nada parou de ser uma apologia dionisíaca às coisas que não sei explicar e passou a ser uma desculpa tosca para que eu pudesse colocar em palavras as coisas que, na verdade, não quero ler.

O blog passou a dificultar minha própria leitura, passou a funcionar como um espelho SUJO. E não mais como um espelho retorcido. Não tenho nada contra espelhos retorcidos – eles nos dão verdades retorcidas, mas tão verdadeiras quanto quaisquer outras verdades. Agora espelhos sujos, esses são nojentos!, porque, podem mostrar a verdade que for, eles sempre a obscurecerão.

Aquela ponta de sujeira sempre sujeitará a beleza que se esconde no espelho à mais horrível das feiúras. O belo ficará distante e a verdade terá um empecilho - sujo, feio e nojento – no seu caminho.

“Sabe qual é o meu problema?”, a frase que ia ser a segunda desse texto, de tão natural que ela flui. Todo mundo se faz essa pergunta, e quase todo mundo a faz a um outro alguém, em algum momento. Aquele momento de indignação, de raiva, de explosão para consigo mesmo. Sim, o momento que, espero, há de arrancar minha sujeira no grito.

O meu problema vírgula porra em maiúsculos ponto de exclamação vírgula é que, não bastando a minha criatividade na hora de retorcer todas as coisas (o que é tudo bem!!!, eu já admiti que tudo bem com verdades retorcidas!), eu pareço insistir em sujar as coisas que toco. Sujo-as voluntariamente, sujo-as por medo.

Na verdade, é como se eu me escondesse atrás da sujeira.

É bem possível que a sujeira não esteja no meu espelho, mas que eu a carregue comigo, e a coloque em toda coisa-espelho desse mundo, sempre me escondendo do possível reflexo meu que aquela coisa irá refletir.

Meu sonho é ter um espelho plano. É bem mais fácil de limpar as sujeiras.

Os meus espelhos são todos cheios de pontas, angulares agudas, afiadas. Meus textos são espinhentos, e difíceis de limpar. Cada vírgula um espinho.

O meu problema é que eu insisto em fazer das coisas espinhos.

Esse blog é uma bola de espinhos. E se eu não tivesse uma idéia clara de que precisamos manter aquilo de que não gostamos nem que só para nos deleitarmos com quão diferentes estamos, eu já teria deletado metade disso aqui. Ou pelo menos um terço.

Porque eu tenho raiva e indigação suficientes para perguntar-me “Sabe qual é o problema com isso aqui?”, porque eu estou negando o que é de ruim, eu estou negando meus espinhos, estou desesperado por aplainar minhas pontas. Quero chegar perto da verdade sem que para isso eu precise perfurar ou cortar, e quero poder me limpar, também.

O problema desse blog é que ele é sujo. O problema não é as palavras serem difíceis, mas é que elas não têm significado. Minha festa irracional da desorganização virou uma festa do nada sobre o nada.
e o problema não é que eu escreva o nada, eu gosto de escrever sobre o nada, porque ele nos lembra o tudo, e também porque ele nos lembra o sîlêncio.

O problema é que eu sujei o nada. O que significa que ele não é mais nada, ele é algo sujo. Então, eu perdi também a pureza. Isso, meus textos deixaram de ser puros. Passaram a ser… mestiços. Passaram a ser prole do nada com a sujeira. E o resultado é esse, a feíura condensada em raiva. Esse post, que nada diz ou nada faz. Apenas denuncia. Uma triste denúncia de mim mesmo.

E no entanto é necessária. É necessária porque ouço já agora os pássaros da primavera – a melhor estação, mesmo que seja quente – e devo-lhes um texto. Devo um texto que cante o canto dos pássaros da primavera. Devo um texto que cante o nada e o tudo presente neles, devo-me um texto que conte o canto dos pássaros, devo ao Friedrich um momento de paz que ele não gaste escrevendo, devo ao Friedrich uma puta, e devo a mim mesmo o prazer da beleza, que eu fui enxugando e matando aos poucos, através da feiúra dos meus espinhos.

Devo a minha alma, e devo o meu contato com a Clarice, e com o meu pesadelo. Hoje sonhei que eram eu e meu pai num cenário james bond, explodimos algo e nos “resgatamos”, e no entando ao explodir, o esgoto explodiu e tudo se encheu de vermes, muito grandes e muito nojentos. Quão verdadeiro não é esse sonho-pesadelo? Quantos não são os vermes que eu encontrei ao tentar explodir o mundo à minha volta, nessa suposta desorganização festiva do nada!?

Eu preciso é explodir as nuvens para que delas caiam algodões-doce! Eu preciso é explodir a garganta para que dela saia um grito verdadeiro – mesmo que de dor, que saia um grito verdadeiro, que não é sujo!. Eu preciso explodir são os holofotes, que iluminam nossas vidas e nos impedem de enxergar a noite, eu preciso explodir os cabelos das mulheres que me cercam, e agora eu não consigo justificar por que, mas não importa, porque sei que essa é uma festa desorganizada da irracionalidade de que eu gosto, que me apraz.

Porque não faz sentido, e no entanto sou eu que escrevo! Não são vocábulos initeligíveis que mal meus são! São palavras minhas, escrotas, feias, indignas, cruéis, ríspidas, nuas, cruas, mas que são minhas, que eu as percebo, as pronuncio, as cuspo, as controlo! São minhas, e só por isso já fazem sentido suficiente dentro da lógica de não-fazer-sentido.

Eu preciso é de uma amizade sincera, dessas que possam polir meu espelho, para que os silêncios sejam sentidos em plena consonância com o nada, e, aí sim, comover a mim e aos que me seguem, aos que me lêem, aos que de mim gostam. Eu preciso voltar a falar de mim, ou de Deus, ou talvez eu não deva voltar a falar de nada – talvez me reste só isso: a humildade para dizer “eu não preciso falar de nada” e permanecer-me então calado.

E tenho dito, humpf.

12 de outubro de 2009

Um feriado na Segunda.

Então, é segunda e eu tentei escrever. Porque foi uma segunda vazia, como os domingos, porque foi feriado.
Mas aí não consegui. Iria escrever sobre o nada, sobre os silêncios e sobre a importância disso. Ia dialogar com clarice. E ia ser bonito. Mas ai não fluiu. Então tentei outra coisa.






























9 de outubro de 2009

Diálogo com os deuses (?) – Meu encontro com Aphrodite #1

Na pequenez de mim mesmo em que me encontro, escrevo.

Além de permitir-me ser suficientemente grande quanto para acomodar a esse eu-que-não-cabe, a escrita permite tantas outras peripécias quanto couberem na folha de papel higiênico em que se escreve.

Nesse momento, a minha calma, que já aprendi ser tão perigosa quanto prazerosa (como são as transgressões!) [Será a minha calma uma transgressão disfarçada?], bem, a minha calma se transformou. E não mais cabe na palavra calma, a que eu havia a designado.

De repente, ela exige inúmeras outras palavras.
De repente, passa a ser silêncio, carência, nostalgia, até medo!

A mesma calma que pouco atrás era apenas ‘calma’ e ‘prazer’. Assemelha-se agora à angústia, e, já o disse, tenta ganhar o status de ‘transgressão’.

Que é ela, afinal?
Que estado é esse de agora que me faz escrever? Não é comtemplativa. É ativa. É calma, mas é ativa, ‘eu sou a calma’. (a calma que é silêncio, carência, nostalgia e medo, e que quer ser transgressão)

- Aparece em tua forma verdadeira, ó musa compulsória! Por que é que me obrigas a escrever-te? O que é que de mim exiges?

Há estados-momentos nos quais é tão essencial que eu escreva, que eu não vejo diferença entre eles e as musas, ambos devaneios-sensações que nos engolem, nós covardes arrogantes, e nos forçam a pensar o mundo sob o prisma delas (das musas).

Personificada, ela, jus à sua idealização (todas as musas são ideais… correto?), se me aparece em forma de mulher, seus contornos tão perfeitos quanto irreais, um esplendor só encontrado na Grécia Antiga e em suas deusas olímpicas.

“Estaria eu falando com a Beleza?” – Aphrodite, és tu?!

A que devo-te a honra?

(…)

Eros? Mas, mas… (silêncio)…
Pathos, é claro.
Agora, eros?
Tens razão, é claro (e como poderia discordar?, é uma divindade!), estou apenas boquiaberto, perplexo.
Mas, sim, é claro que concordo.

E ela se esvaiu, tão rápido quanto veio, tão incrível. Ela passara sua mensagem e seguiu.

A calma que eu sentia era de fato divina. A calma que era silêncio, carência, nostalgia, medo e que queria ser transgressão. Era divina, era Aphrodite. Era a beleza.

Só que eu estava ativo – certamente eu era belo a qualquer um que por ventura me percebesse, que se aventurasse a ser o sujeito ativo da beleza que eu estava emanando mas eu não via, eu não estava sendo o duplo sujeito da beleza, não era o belo a mim mesmo.

Mas vi, pelo espelho ao contrário que se tornou minha narrativa - que, num contato com a minha palavra, tornou-se divina e depois divindade - a minha beleza; tive um relance dela, arranquei-lhe um pedaço de certeza. Vi a Aphrodite que reinava secretamente no meu silêncio carente nostálgico medroso transgressor, calma!.

1 de outubro de 2009

(Rascunho) Friedrich (IV) - Trecho de Diário #1

Hoje, tendo achado um momento de paz dentro de tantas outras turbulências, permito-me o luxo de escrever. Pude pensar – e embora não uma tese deveras complicada ou difícil, é-me prazeroso escrevê-la nem que apenas para tê-la por registro de que a minha mente não morreu.

Também, escrever do modo como aqui pretendo lembra-me os tempos de Universidade… Uma gostosa nostalgia dentre tantas memórias contaminadas.

Aos pensamentos, pois:

É claro que, embora pensante, não me livro completamente da parte mais negra de mim, por assim dizê-lo. São precisamente as angústias, minhas, de que falarei.

Sei bem que todas elas - por mais que concentrem-se no campo mental, psicológico, pensamentoso - têm reflexos no corpo. A partir daí, distingui-as basicamente entre dois tipos.

Há aquelas, mais comuns, que aparecem-me como mera e genérica “dor de cabeça”; e outras, muito mais intensas e pesadas - tanto mais raras! -, que se mostram principalmente no coração e na caixa torássica que o envolve (por vezes comprimindo o diafragma e destruindo momentaneamente a minha capacidade respiratória). Haja fé na frieza matemática nessas horas!: só ela me proporciona algum conforto.

Não obstante o meu diploma – que valem eles aqui, afinal? – é desnecessário ser um doutor para que alguns detalhes se notem. O segundo tipo de angústia quase sempre possui uma ligação com um sentimento afetuoso, para com outro ser humano, geralmente um parente, ou de importância equiparável. Já notei pelo menos dois momentos em que pensei em minha mãe ou em Nicole, antes de um tal ‘espasmo angustioso’.

Já o primeiro poderia, por outro lado, ser causado por mero devaneio intelectual, estando a cura presa tão-somente ao intelecto; mais de uma vez se deu depois de uma falta de fé religiosa (algo freqüente num ambiente tão sem-Deus quanto o em que eu agora me encontro), ou um desafio à minha autoridade enquanto patente. Tão logo recomponho minhas convicções, a dor se esvai – como disse, tão unicamente uma angústia intelectual. Nos casos que citei, prováveis frutos da frouxidão de minha infância.

Tenho que ir, uma briga entre dois novatos me requer. Ridículos garotos acéfalos – nenhum jamais há de me proporcionar um diálogo que chegue aos pés do que eu mantenho nesse caderno!

Argh. Sôo louco…

F. Grundberg
19.05.43