Sabe qual é o problema com esse blog?
O problema é que ele é um ponto cego. Virou um ponto cego e nulo. A minha desorganizada festa irracional do nada parou de ser uma apologia dionisíaca às coisas que não sei explicar e passou a ser uma desculpa tosca para que eu pudesse colocar em palavras as coisas que, na verdade, não quero ler.
O blog passou a dificultar minha própria leitura, passou a funcionar como um espelho SUJO. E não mais como um espelho retorcido. Não tenho nada contra espelhos retorcidos – eles nos dão verdades retorcidas, mas tão verdadeiras quanto quaisquer outras verdades. Agora espelhos sujos, esses são nojentos!, porque, podem mostrar a verdade que for, eles sempre a obscurecerão.
Aquela ponta de sujeira sempre sujeitará a beleza que se esconde no espelho à mais horrível das feiúras. O belo ficará distante e a verdade terá um empecilho - sujo, feio e nojento – no seu caminho.
“Sabe qual é o meu problema?”, a frase que ia ser a segunda desse texto, de tão natural que ela flui. Todo mundo se faz essa pergunta, e quase todo mundo a faz a um outro alguém, em algum momento. Aquele momento de indignação, de raiva, de explosão para consigo mesmo. Sim, o momento que, espero, há de arrancar minha sujeira no grito.
O meu problema vírgula porra em maiúsculos ponto de exclamação vírgula é que, não bastando a minha criatividade na hora de retorcer todas as coisas (o que é tudo bem!!!, eu já admiti que tudo bem com verdades retorcidas!), eu pareço insistir em sujar as coisas que toco. Sujo-as voluntariamente, sujo-as por medo.
Na verdade, é como se eu me escondesse atrás da sujeira.
É bem possível que a sujeira não esteja no meu espelho, mas que eu a carregue comigo, e a coloque em toda coisa-espelho desse mundo, sempre me escondendo do possível reflexo meu que aquela coisa irá refletir.
Meu sonho é ter um espelho plano. É bem mais fácil de limpar as sujeiras.
Os meus espelhos são todos cheios de pontas, angulares agudas, afiadas. Meus textos são espinhentos, e difíceis de limpar. Cada vírgula um espinho.
O meu problema é que eu insisto em fazer das coisas espinhos.
Esse blog é uma bola de espinhos. E se eu não tivesse uma idéia clara de que precisamos manter aquilo de que não gostamos nem que só para nos deleitarmos com quão diferentes estamos, eu já teria deletado metade disso aqui. Ou pelo menos um terço.
Porque eu tenho raiva e indigação suficientes para perguntar-me “Sabe qual é o problema com isso aqui?”, porque eu estou negando o que é de ruim, eu estou negando meus espinhos, estou desesperado por aplainar minhas pontas. Quero chegar perto da verdade sem que para isso eu precise perfurar ou cortar, e quero poder me limpar, também.
O problema desse blog é que ele é sujo. O problema não é as palavras serem difíceis, mas é que elas não têm significado. Minha festa irracional da desorganização virou uma festa do nada sobre o nada.
e o problema não é que eu escreva o nada, eu gosto de escrever sobre o nada, porque ele nos lembra o tudo, e também porque ele nos lembra o sîlêncio.
O problema é que eu sujei o nada. O que significa que ele não é mais nada, ele é algo sujo. Então, eu perdi também a pureza. Isso, meus textos deixaram de ser puros. Passaram a ser… mestiços. Passaram a ser prole do nada com a sujeira. E o resultado é esse, a feíura condensada em raiva. Esse post, que nada diz ou nada faz. Apenas denuncia. Uma triste denúncia de mim mesmo.
E no entanto é necessária. É necessária porque ouço já agora os pássaros da primavera – a melhor estação, mesmo que seja quente – e devo-lhes um texto. Devo um texto que cante o canto dos pássaros da primavera. Devo um texto que cante o nada e o tudo presente neles, devo-me um texto que conte o canto dos pássaros, devo ao Friedrich um momento de paz que ele não gaste escrevendo, devo ao Friedrich uma puta, e devo a mim mesmo o prazer da beleza, que eu fui enxugando e matando aos poucos, através da feiúra dos meus espinhos.
Devo a minha alma, e devo o meu contato com a Clarice, e com o meu pesadelo. Hoje sonhei que eram eu e meu pai num cenário james bond, explodimos algo e nos “resgatamos”, e no entando ao explodir, o esgoto explodiu e tudo se encheu de vermes, muito grandes e muito nojentos. Quão verdadeiro não é esse sonho-pesadelo? Quantos não são os vermes que eu encontrei ao tentar explodir o mundo à minha volta, nessa suposta desorganização festiva do nada!?
Eu preciso é explodir as nuvens para que delas caiam algodões-doce! Eu preciso é explodir a garganta para que dela saia um grito verdadeiro – mesmo que de dor, que saia um grito verdadeiro, que não é sujo!. Eu preciso explodir são os holofotes, que iluminam nossas vidas e nos impedem de enxergar a noite, eu preciso explodir os cabelos das mulheres que me cercam, e agora eu não consigo justificar por que, mas não importa, porque sei que essa é uma festa desorganizada da irracionalidade de que eu gosto, que me apraz.
Porque não faz sentido, e no entanto sou eu que escrevo! Não são vocábulos initeligíveis que mal meus são! São palavras minhas, escrotas, feias, indignas, cruéis, ríspidas, nuas, cruas, mas que são minhas, que eu as percebo, as pronuncio, as cuspo, as controlo! São minhas, e só por isso já fazem sentido suficiente dentro da lógica de não-fazer-sentido.
Eu preciso é de uma amizade sincera, dessas que possam polir meu espelho, para que os silêncios sejam sentidos em plena consonância com o nada, e, aí sim, comover a mim e aos que me seguem, aos que me lêem, aos que de mim gostam. Eu preciso voltar a falar de mim, ou de Deus, ou talvez eu não deva voltar a falar de nada – talvez me reste só isso: a humildade para dizer “eu não preciso falar de nada” e permanecer-me então calado.
E tenho dito, humpf.
Meu caro, eu acho que você está na beira de explodir, de um jeito ou de outro. O que talvez seja preciso, é guiar à essa explosão, de forma sensata. É tudo uma questão de conduzir corretamente o processo. Você tanto pode ser pólvora, como fogos de artifício.
ResponderExcluir"If you need it
ResponderExcluirSomething I can give
I know I'd help you if I can
If you're honest and you say that you did
You know that I would give you my hand
Or a sad song
In a lonely place
I'll try to put a word in for you
Need a shoulder? Well, if that's the case
You know there's nothing I wouldn't do
Where we're living in this town
The sun is coming up and it's going down
But it's all just the same at the end of the day
When we cheat and we lie
Nobody says it's wrong
So we don't ask why
'Cause it's all just the same at the end of the day"