26 de outubro de 2010

Os dezoito anos

Como se faz política?
Como se lê Nietzsche?
O que é a saúde?
Qual a diferença entre prazer e alegria?
O que se entende por sonho?
Como sentir o que se pensa?
Como se faz amor?
O que é a amizade, e como se a recupera?
Estar só é ruim.
Música eletrônica é bom, mas nem tanto.
Dançar é bonito, e ainda é o centro do universo, mas há mais de um jeito de dançar. Transando, por exemplo. Chorando, por exemplo.
O que significa responder, reagir, receber?
Existir significa respirar e mais um tanto de coisas.
Dormir, chorar, jogar videogame.
O que é a escola? É o que restou da minha alma. O que se me tornou sonho.
O que o faz apaixonado? - É o que eu sinto: são esses bandos de sóis que insistem em brilhar, para além de bens e males, com a intensidade que se estampa em meus olhos.
O que o faz triste? É isso, tudo isso-aquilo que me tiraram.
Como resistir? Juntando-se. Em tempos, em espaço, em olhares, em linhas, em beijos.
E crescer? Crescer é difícil, sempre. Se não é difícil, não é crescimento.
Difícil!, disse eu, não penoso.
E os textos, a sua literatura? –Pra que serve?
É. –Bem, pra nada.
Pra nada? –É, pra nada.
Mas algum dia vai servir? –Sim, quando eu conseguir fazê-la pra outros, quando eu consigo fazê-la pra outros. Aí, sim.
Os outros? – É.
Cansaço. Muito cansaço nessa vida.
Mas, ainda assim, ainda assim… Ainda assim. Eu, vivo.
Mãe, vai ter outro ano de 1999?
Não? Mas… isso significa que essas alegrias, felicidades, essa minha risada e a piada do Luiz Gustavao – eu nunca vou tê-las de novo? Nunca hei de sentí-las novamente? É isso que significa ressentir? Tentar sentir de novo e, fatalmente, não conseguir?
Pai, por que você precisa continuar fazendo obra? Chega! Eu quero jogar bola contigo. Investimento? Mas eu não quero ir pra Noruega! Mamãe? Você faz isso por ela? Mas não parece… Desculpa. Não te peço mais.
O que? Mas, mas… Não, eu não sei se vi nada de diferente nela, não, pai. Ahn? Como assim ‘mais feliz"’? Por favor! Mas, pai! Dói muito! Não quero.
O que? Se tá tudo bem? Sim, claro, nada de mais. E você? Pois é, tenho ouvido outros tipos de música agora. Pink Floyd e tal. Videogames? Claro.
A escola sempre foi muito fácil, mas tá tudo bem, sim. Meio chato, mas acho que sempre é, né?
Que me desafiam socialmente? Como assim?
Ah, é legal ouvir, assim, que não é algo inato.
Volta pra mim?
Lembra quando a gente não prestou atenção na aula de história, porque tava discutindo Capitalismo e Socialismo?
Lembra quando você me batia com a lancheira?
Lembra quando a gente jogava bola? Você era rápido, você driblava, você fominha, mas era muito bom.
Lembra de antes, quando a gente era menor, e que a escola era de fato Nossa?
Lembra de Cabo Frio? De quando choramos todos juntos? De quando dormímos juntos? De quando acordamos junto do sol, à praia?
Lembra quando eu bebi pela primeira vez? Lembra…. das coisas ruins? Lembra de tudo o que eu disse? Eu me arrpenedo, sim. Só não sei se acredito nisso de arrependimento.
Ah, eu te amei.
Não, nunca aconteceu! Responsabilidade?
O que é a responsabilidade? Por o que sou responsável?
Pelo mundo?
A música! O violão! As notas! Clarice!
Olha eu cantando! Eu canto chorando, como se cada linha fosse uma lágrima, a ser expulsa, a ser sentida, algo que não cabe nem pode caber em mim.
Queria que você tivesse me cantado.
Ei, você acha que eu posso ser seu amigo? Eu não sou muito bom nessas coisas.
É assim que é. Não.
Dezoito anos? Mais parecem dezoito eternidades.

Talvez sejam. Talvez sejam.