31 de dezembro de 2013

Quanto menos pragmático, maior

Há grandeza no homem que escolhe o que é certo em vez de o que é melhor.

11 de dezembro de 2013

O valor de um espírito e o significado de uma barriga

Ganhar dinheiro sem enriquecer é quase tão nojento quanto ganhar peso sem comer.

A banha nos teus bolsos fede a sangue de anjo.

3 de outubro de 2013

Força

Você não confiaria num policial com arma de brinquedo, nem num cirurgião com faca de manteiga. Precisamos de pistolas e de bisturis.

Diga-me: o que pode um escritor cuja língua não é afiada? De que vai te salvar a escrita que não tem o poder de te matar? Não somos inofensivos e por isso não somos impotentes. Somos capazes de ferir, somos capazes de fazer sofrer, somos capazes de sufocar.

Mas você continua querendo uma medicina que não corta; uma ordem sem imperativos; sexo sem penetração; educação sem invasão; arte sem dor; poesia sem sangue; vida sem morte.

Não somos vegetais, meu bem.

22 de setembro de 2013

Irrefutável e gritante

A crueldade é um tipo de sinceridade.

Escolhendo o campo de batalha

Na luta contra a autoridade - qualquer tipo de autoridade - devemos sempre lembrar de nossa gratidão para com inimigos externos. Eles nos fornecem metáforas, sentimentos e teses -- e são essas as armas que devemos usar para combater os verdadeiros inimigos.

Os subprodutos estéticos da ciência

Deseja calma diante da morte?
Procura um biológo, meu amigo -
e não um sacerdote!

21 de setembro de 2013

Estrelas explodem

"Você me ama por quem eu sou?
Eu te amo por quem você está vindo-a-ser."
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Se eu te amasse por aquilo que fizeram de ti -- eu estaria amando os seus pais e os seus avós!

Não, meu amor, eu te amo por aquilo que você fez de ti. Eu não amo as repressões que você sentiu, nem a educação que te poliu. Eu amo as suas traições e os seus desrespeitos. Eu amo os seus filhos! mais que aos seus pais. Eu amo o que você vai fazer com o mundo - mais do que ao que o mundo fez com você. Eu amo as suas grossas e penetrantes raízes - mais que às suas bem-cuidadas folhas. Amo você fogo! mais que você fogueira. Deixem que esses laranjas completem-se com suas metades - de você, que é inteira, prefiro que me destrua! Eu te amo caos

Eu e você somos dois sóis.

20 de setembro de 2013

Sendo mais específico

É preciso escrever com sangue!, sim, mas é com o teu sangue, besta -- teu!!!

"Desculpe"

- Eu realmente não sabia que você se sentia assim.
- E você acha que isso o torna menos culpado?

19 de setembro de 2013

As roupas do sentido

Às vezes é de maneira vaga que se descreve mais precisamente.

Uma verdade-irmã

É preciso proteger a tua força da tua fraqueza.

Capítulo catorze

"Você envelheceu, pai. Seu discurso tem cheiro de fascismo."

18 de setembro de 2013

Criminosamente coerente

Não vai contra meus princípios infringir uma lei que vai contra meus princípios.

3 de agosto de 2013

Receita para ser filósofo

1. Ceder aos pensamentos bobos.

1 de agosto de 2013

O início de um estudo sobre as virtudes do trabalho

"Não quero morrer com a sensação de que em nada contribuí; por isso trabalho."

"Curioso: pelo mesmo motivo pedi demissão."

22 de julho de 2013

Uma verdade feminina

Nem sempre dizer a verdade é o jeito certo de ser verdadeiro.

20 de julho de 2013

A contradição daquela que os cria e a força daquele que os detém – Sobre os chifres

No meu mundo, é impossível trair aos outros. Podemos apenas trair a nós mesmos.

João e Joana são um casal. Ainda num relacionamento com João, Joana fica com Carlos. Nesse momento, diz-se que João é um corno – e que Joana o traiu. No entanto, o relacionamento de João e Joana continua. Quisesse Joana realmente ficar com Carlos – ela deixaria João e ficaria com Carlos. Mas ela não deixa João. Apesar de, nítida e obviamente, poder ficar com Carlos – ela não deixa João. Ora, se “ficar com Carlos” foi realmente uma traição… Não podemos dizer que Joana --- é fiel a João, apesar de tê-lo traído?

Digamos que não, que ela não é fiel a João. Isto é: que ela não queira realmente ficar com João. Ela quer, realmente, ficar com Carlos – ou, até, não ficar com ninguém. Nesse caso, ela está indo contra o que realmente quer. Ela está traindo a si mesma. A contradição daquela que cria os chifres é entre o que ela realmente quer e o que ela faz.

Quando Joana ficou com Carlos, João ganhou um par de chifres. Esse par de chifres diz ao mundo todo: “Minha mulher, apesar de – nítida e obviamente – poder ficar com quem ela quiser, escolhe permanecer num relacionamento comigo”. A força daquele que detém os chifres é que, apesar das traições, permanece uma fidelidade.

O problema é que não é assim que funciona. Vão me dizer que a verdade é que Joana não se importa com João – vão dizer que ela se aproveita dele, que o humilha, que o faz de bobo.  A verdade, vão me dizer, é que Joana só está com João por aparência. Ela quer o dinheiro dele, ou o prestígio social dele, ou sabe-se lá o quê dele: ela quer algo dele – e não é o amor, nem o pênis.

Nesse caso, meus caros, eu tenho que concordar: Joana é uma puta traidora. Mas não, eu insisto, porque ela ficou com Carlos! A traição dela veio antes – a traição dela está em ficar com João pelos motivos errados. A traição dela está em ficar com João sem que ela realmente queira. Joana trai a si mesma.

Mas e Carlos? Carlos se importa com Joana? E se Carlos ama Joana? Não é verdade que, ao permanecer na relação com João, Joana trai a Carlos, ao amor de Carlos? Cada dia que Joana volta pra casa de João, que faz seu jantar e dorme na mesma cama que ele, Carlos sofre. Ele ama Joana e a quer ao seu lado. A intensidade e a sinceridade do que sente estão acima dos valores sociais tipicamente cultivados: que importam a ele os casamentos, os sobrenomes, a “família”? Ele a ama! E todo mundo sabe que ninguém ama dessa forma sozinho. Carlos sabe, no fundo de seu coração, que ele foi correspondido. Carlos sabe que é apenas por covardia e por inércia que Joana não se desprende de João. Carlos sabe que Joana, de fato, o ama – mesmo que ela não saiba.

E a cada dia que Joana não enfrenta sua covardia – ela trai Carlos.

Mas aí vão me dizer: Joana não ama Carlos. Lembra-se? Ela é uma puta! Ela se diverte com Carlos. Ela gosta é de estar nessa posição de traidora. Ela gosta de rir com as amigas, dizendo que traiu o marido na semana passada. As amigas, velhas e enrugadas, não conseguem mais atrair um homem e, portanto, não conseguem trair seus maridos. E é por isso que ela sempre volta a João. Em realidade, como havíamos dito, ela é fiel a ele, porque é dele que ela tira esse sentimento de poder, essa diversão cruel: sem um marido bobo para humilhar, que graça tem a vida? O que quer, realmente, Joana? É ela uma puta que quer realmente viver esses prazeres sádicos? Pois então, ao ficar com João, ela está sendo sincera! Ao “trair” João com Carlos, ela está sendo sincera! Sincera a si mesma!

O problema é que não é assim que funciona. Joana de fato ama Carlos – e percebeu isso através dos seus sonhos. Não apenas os que tem durante a noite, mas – principalmente – os que tem durante o dia. Não é em João que ela pensa quando tem um dia estressante no trabalho, não é com ele que ela pensa em dividir o bonito pôr-do-sol que avistou da janela do ônibus. Não é ao lado dele que ela se imagina levando o pequeno Léo ao parque. Joana ama Carlos. E todos os dias se culpa por não conseguir se desprender de João. Mas que escolha tem ela? João é um homem rico, por quem “se apaixonou” ainda jovem e, sem ele, como poderia ela cuidar de sua mãe doente? Carlos, por lindo e apaixonante que seja, não tem um tostão. A situação atual – casada com João, ficando com Carlos, cuidando da mãe – é a situação em que ela é menos traidora, ela pensava. Sei, pai nosso que estais no céu, que traio a mim mesma, a Carlos e a João, ao permanecer nessa situação, mas eu seria uma traidora muito pior caso eu matasse minha mãe. E se eu parasse de “trair” João com Carlos, eu estaria traindo a mim mesma e a Carlos de maneira imperdoável. Eu escolho, Deus, a menor traição.

Mas a menor traição, meus caros, ainda é uma traição. Joana trai a si mesma. A crueldade que vocês tinham lhe imputado por ser uma traidora – precisamente era essa a crueldade que faltava a Joana, para que ela parasse de trair. Porque ser sincero inclui ser cruel. Se Joana conseguisse ser um pouco mais cruel com sua mãe e um pouco mais cruel consigo mesma (pois ela certamente sairia dessa muito lesada, com o nome manchado e com menos amigas) – talvez ela conseguisse viver seu amor com Carlos e cuidar do pequeno Léo com a sinceridade e a intensidade que ele merece. E Joana saberia ser cruel com o pequeno Léo. Porque aqueles que sabem ser cruéis com seus pais -- sabem ser cruéis com seus filhos. E é preciso que sejamos cruéis com nossos filhos. Faz parte do nosso respeito por eles. É apenas a crueldade que nos permite rir de La Vita (che) è Bella.

Haverá quem queira realmente não trair? Enveredar-se pelos caminhos da verdade e da sinceridade? Lembremos sempre a importância da penetração para a vida. Lembremo sempre que o oxigênio é um gás combustível – que o queimamos para viver. Lembremos sempre que temos caninos para arrancar a pele de animais menores. Lembremos sempre que nosso estômago trabalha com ácidos. Lembremos sempre que os arcos com que se tocam os violinos são feitos de crinas de cavalo. Lembremos sempre que o amor é egoísta e ambicioso. Lembremos sempre de escrever com sangue, de amar com o coração. E que, se formos nos suicidar, que explodamos com fogos de artifício.

2 de julho de 2013

Cansado demais para chorar

Uma "injustiça": 
É nos invernos mais frios que precisamos racionar com mais rigor.

29 de junho de 2013

Cuidado com os que dizem a verdade!

Subestimamos a freqüência - e o perigo - de suas mentiras.

24 de junho de 2013

Taí

Meu cinismo e a estranha mania dele  –  de virar prosa.

6 de junho de 2013

Caro teofóbico,

A pequenez do deus contra o qual você luta é a sua própria.

2 de junho de 2013

A consumação não é necessária para a verdade

O meu suicídio é tão verdadeiro quanto o amor de Romeu e Julieta.

E o amor de Romeu e Julieta - o nosso amor, por excelência - não é o mais real de todos os amores? O amor que quase aconteceu? Que, por uma confusão de trinta segundos, deixou de ser?

Que por uma confusão de trinta segundos deixou de ser.

22 de maio de 2013

Escondendo as morais com a moral

Não se percebe as falhas nos troncos quando se olha uma floresta. Estar em um grupo significa: olhar-se de mais longe. O jeito mais fácil de sentir-se bom é: fazer parte de um grupo que diz "Eu sou bom".

20 de maio de 2013

Amar é...

A alma se curando por dentro.

19 de maio de 2013

Amor de filósofo

Serei pai do seu filho, meu amor. E isto não é apenas um desejo meu - é um destino que se realizará. Porque, se eu não for o pai biológico dele, serei-lhe igualmente paternal ao ser pai de seu espírito.

Porque, se eu não for seu amante - serei filósofo. E você não terá a coragem de negar ao seu filho a leitura de meus livros. Não, você sentiria isso como uma vergonha. Talvez você não leia os meus livros - não me importo, não os escrevo para você! - mas o seu filho os lerá! E, através dele, você vai continuar me amando. Eu criarei seu filho através das leituras que ele fizer de mim. E eu lhe ensinarei a enfrentar a vergonha e o medo, e eu o ajudarei a amar.

E aos outros que estão revolvendo meus baús com minhas cartas de amor: por um acaso ofendem-se? Acham-me um monstruoso por admitir um amor assim, autoritário violento e mau? Um amor que não deixa abertas escolhas, que desrespeita decisões, que não se importa de ser monstro? Mas não é assim - o amor?!

Jovens "alienados"!

'Nossos pais lutaram muito para que chegássemos onde estamos' é o que parecem dizer todos esses velhos que nos chamam - ora: nos acusam! - de "alienados". 'É nosso dever, enquanto pais de nossos tempos, cuidar para que o mundo não se perca', eles continuam, pra lá e pra cá, geração após geração - não se calam! Há pelo menos duzentos anos os jovens vêm sendo chamado de "alienados", sem poupamentos. Ora, ora!, mas não havia alienados antes do século XIX! Vocês se dizem pais para esconder o fato de serem filhos! Filhos do século XIX! Nem direi nada sobre aqueles, dentre meus colegas, que são antigos, mas que se olhe à minha volta todos os que são barrocos, os que são renascentistas!! Que nos importa o seu tempo?, que nos importa onde chegamos?, que nos importa sermos alienados de nossa época? Não conhecemos esse sentimento! Não pertencemos à mesma época que vocês! Recusamo-nos a ser, como vocês, filhos de nossos pais!

Um homem de poucos bens

Tenho apenas três coisas  - meu amor, - meus textos e - meus amigos. Sou mesmo um afortunado.

Violência assistida

Estupro é o que nos impede de sair de nós mesmos. Muitos são os que estupram ao amar, e o pior  - com consentimento!

10 de maio de 2013

Os meus textos se remetem a erros que cometi e são destinados a pessoas que amei.

6 de maio de 2013

Confiar é abandonar

O que significa confiar? Quem diz ‘Eu confio em você’, está dizendo: ‘Acredito que você vai tomar a decisão correta’. E se você realmente acredita – se você realmente confia – em alguém, então você não precisa ajudá-lo a tomar nenhuma decisão. Confiar totalmente em alguém é deixá-lo sozinho – como o pai que solta a bicicleta, porque confia que o filho vai conseguir. Confiar é soltar. Confiar é abandonar.

O maior de todos os abandonadores é Deus. Porque Ele fez os homens e depois se foi, dizendo: ‘Confio que fareis o bem’. Deus acredita que faremos um bom uso de nosso livre-arbítrio e que usaremos de nossas capacidades para fazer as coisas certas e boas. E ele não confia e fica olhando! – como a mãe que apenas finge que confia no filho brincando, mas segue-o, nervosa e impecável, com o olhar – não! Deus confia totalmente em nós. Isto é: Deus nos abandonou.

Pensam, meus amigos, que faço aqui um elogio ao abandono? Não mesmo. Trata-se, antes, de uma crítica à confiança! Eu tremo só de imaginar o que seria de nós, caso nossos artistas e pensadores tivessem confiado no mundo e nos homens; o que seria de nós, se tivessem dito “minhas obras são desnecessárias, porque acredito que o mundo vai se ajeitar sozinho”?! Não! Nós, artistas e pensadores, precisamos desconfiar do mundo e dos homens; não acreditamos que seguirão, sem a nossa ajuda, o melhor caminho. Nisso é necessário que sejamos mais responsáveis do que Deus.

Porque eu estou cansado de ver homens se colocando na posição de Deus e “confiando” em outros homens e no mundo, esses que acreditam que “tudo ficará bem no final”, esses que acreditam que “o tempo cura”, esses que escolhem trabalhar de 8h às 18h, esses que não checam o dever de casa dos filhos, esses que não questionam a escolha da profissão dos amigos, esses que têm medo de se intrometer – a confiança que depositam nos outros é a sua desculpa para que se abstenham de cuidar deles. Esses confiadores, esses respeitadores, esses -  - abandonadores! Não confiar: ajudar! Chega de deixar os outros sozinhos. Que confiemos nos nossos pais ou em nossos ex-namorados! - mas de nossos amigos, de nós mesmos, dos nossos amores? Desconfiar sempre! Porque de outro modo seria um crime. De outro modo seria um abandono.

É por lealdade e por amor que desconfiamos de uma mulher. E aqui, como em todo lugar, amar uma mulher não está muito distante de amar a verdade: é preciso fugir das contradições, ser sincero e leal, aliar-se à justiça, buscar o prazer e a liberdade, atentar-se aos detalhes, buscar o que há por debaixo, não ter vergonha da nudez, fazer-se belo, divertir-se com ela, brigar por ela, render-se a ela, olhar as nuvens e sorrir. Não pode ser bom filósofo aquele que tem medo de mulher.

20 de abril de 2013

Um texto escrito em caderno, depois de tanto tempo

“Por que não consigo ser como o Renato?”, eu perguntava a mim mesmo, enquanto o ouvia no carro. Por que eu não consigo ser singelo como ele?, por que eu não consigo fazer poesia desse jeito sincero e simples?

Eu invejo o Renato, mas não pela sua fama ou pela sua capacidade artística. Eu não consigo ser como o Renato, não consigo fazer poesia nu desse jeito, porque eu tenho vergonha. Eu invejo a falta de vergonha do Renato.

Uma vez a minha irmã disse “Puxa, eu tenho a impressão de que ele sofreu muito”, e isso me deixou com raiva, “Não, ele só viveu sinceramente!”, eu disse, “Ele não sofreu mais do que ninguém”. Ele não sofreu mais do que eu. Mas eu acho que é bem fácil ter a impressão de que o Renato conheceu a solidão, a tristeza e o amor.

Aí eu pensei: “Na verdade, é bem fácil imaginar que ele tenha sido órfão”. Num sentido profundo, metafórico, não no sentido literal. Mas é importante isso, porque a minha vergonha tem a ver com eu não ser órfão e, mais que isso, não poder ser órfão. Meus pais me matariam, se eu me tornasse órfão.

Eu tenho vergonha de me admitir triste e sozinho, porque isso seria uma traição às pessoas que deram a vida para a minha felicidade e estiveram sempre ao meu lado. Eu os ofendo com a minha tristeza, eu os ofendo com a minha solidão. Nem me pergunte sobre o ciúme (que tem, afinal, um pouco de tristeza e de solidão), pois este é o mais ofensivo dos sentimentos.

Eu invejo o Renato Russo, porque ele não tem vergonha de admitir que é órfão. Triste, sozinho e sedento de amor. Eu também. Eu também sou órfão. E não somos todos?

17 de abril de 2013

Consolo só para os alegres

As coisas não são como desejamos que sejam.

Isso significa que várias vezes elas são muito melhores do que podíamos imaginar!

Pergunte ao garoto que você era há uns cinco, seis anos atrás… Você sinceramente poderia imaginar que teria vivido tantas coisas quanto viveu? Você sinceramente não se orgulha de ter tido a capacidade e a oportunidade de sentir as coisas que sentiu?

Ora, ora! Eu acho mesmo que a sua tristeza de agora é em grande parte um defeito de perspectiva! Porque eu te conheço, e eu sei como você era triste. Você se sente o mais triste dos seres agora, mas você se sente assim porque está se comparando à maior das felicidades! Porque você sentiu, sim, a maior das felicidades! Enxerga-se nos seus olhos a sua capacidade para a alegria!

A versão de você que vive hoje – é a melhor versão de você. Você viveu e cresceu, e tem se tornado cada vez mais bonito. Eu tenho orgulho de você. Eu te amo. Agora só falta você

15 de abril de 2013

A menor distância

A menor distância entre duas pessoas não é quando elas se encostam. É quando uma mora no coração da outra.

10 de abril de 2013

Um tipo simples de perdão

A gente faz as coisas do jeito que a gente consegue fazer as coisas.

7 de abril de 2013

Um brinde jovem!

Aquele senhor nasceu muitos anos antes de você e diz que tem mais experiência e que, por isso, você deve ouvir os seus conselhos. Mas não se engane: as experiências que ele tem, que ele acumula em maior número e duração que você, são experiências de fuga da vida – é isso que ele fez nesses anos todos! Experiências de vida – dessas você tem! e em grande número e grande intensidade. É preciso desmascarar falsas autoridades. E é preciso que você entenda a importância e a magnitude das vivências que você tem e acumula. Somos irmãos de vida, eu e você. Comemoremos longe daqueles velhos!

6 de abril de 2013

Não somos autoridade de nós mesmos!

Não peça a uma mulher conselhos sobre seus desejos, nem lhe indague sobre seus secretos anseios. Mesmo que você realizasse tudo que ela disse, ainda assim você seria menos desejável do que aquele outro que a surpreendeu - realizando desejos que ela nem sabia que tinha.

No melhor lugar do universo

Eu nunca senti que podia chamar as casas em que morei de lar. Hoje eu descobri que existe uma diferença entre um espaço e um lugar, e a intuição que eu sempre carreguei na minha vida – de que nunca acharia um teto sob o qual eu pudesse me sentir “em casa” – fez mais sentido. Um lar não é feito de alvenaria e concreto. É, antes, o lugar em que podemos ser o que nós somos; onde chorar é, além de confortável, prazeroso; onde a vontade de não-viver é impossível; onde o descanso é perdoado; é para onde o amor volta.

Hoje eu descobri, meu amor, que eu quero morar no seu peito. Lá, que é o melhor lugar do universo. Lá, que é o meu lar.

Mas para isso...

Para que a fidelidade tenha algum sentido, é preciso que sejamos capazes de trair.

3 de abril de 2013

Abster-se é um crime

Pais com o objetivo de não traumatizar os filhos fazem-no duplamente.

Acordando o instinto de verdade como quem acorda um urso com um taser

Você lê um dos meus textos de uma frase só e tem vontade de dizer apenas uma coisa: “Isso não é verdade! Não pode ser verdade!”. Quando isso acontece, eu sei que posso dormir tranquilo, com a certeza de que minha missão se cumpriu.

Por um mundo sincero

“Como há pessoas más no mundo! São muito mais numerosas do que as boas, certamente!”, exclama por aí o populacho ao se deparar com as tragédias de cada dia. Sim, talvez seja verdade que haja no mundo uma quantidade estranha e talvez incontrolável de maldade, mas… atribuí-la aos maus? A maldade que é causada pelos maus nem dói tanto assim! Mas vocês não sabem disso!, porque nunca viram alguém mau, genuinamente mau -– de fato eles são poucos e raros. Não, meus amigos, se há maldade no mundo… ela não é causada pelos genuinamente maus, mas pelos ingenuinamente bons. Desses o mundo está já há muito sobrecarregado.

Matando sujeitos

Você amamenta o seu filho para que ele pare de sentir fome - ou para que você pare de ouvir o choro?

Sua monstra.

31 de março de 2013

Puro, simples, livre

Como os sentimentos de um homem depois de chorar.

Uma alegria calma, de quem olhou pra morte e voltou.

Sem correntes, sem espinhos, o mais livre dos andarilhos – o mais pequeno dos caminhantes, porque se sabe pequeno.

E ao mesmo tempo enorme, do tamanho do universo, exatamente do tamanho do próprio corpo, porque é corpo.

Corpo - perdoável, salvável, inocente corpo – corpo de criança.

É preciso se desfazer por completo das palavras, pra que elas possam ter finalmente significado. Porque é como se o mundo pela primeira vez tivesse significado – e é verdade: o mundo começa agora.

E agora, agora!, meu amor, agora eu te amo.

30 de março de 2013

Uma mentira a ser desfeita

"Porrada de mãe --- é carinho."

26 de março de 2013

Somos todos bombeiros

Nada do que é humano nos é indiferente.

(Nem a maldade, nem a injustiça, nem a mentira, nem a covardia, nem o desespero, nem a desrazão. Como é difícil ser bombeiro.)

24 de março de 2013

Musculatura

Quando você transa ou se masturba… A sua cara parece como a de alguém que entra em um banho quente ou come um chocolate divino –- ou você tem aquela cara de quem tá na cadeira do dentista?

Às vezes eu tenho a impressão de que a saúde começa nos suspiros.

23 de março de 2013

Não é uma relação causal

O choro é para a tristeza o que as palavras são para o poeta.

22 de março de 2013

Porque temos pernas

A mulher que tem quadril - e não dança – é imoral.

21 de março de 2013

Não ao não-sofrimento!

A história do sofrimento é muito menos importante (e muito menos interessante!) do que a história de como se lidou com o sofrimento.

Não posso dizer o que dói mais – se o sofrimento ou o medo de sofrer mas, com toda certeza, posso dizer qual faz mais mal.

E quem esquece saudável é.

Perdoar é impossível. No máximo podemos esquecer.

19 de março de 2013

O que é mais importante

Não concordo com tudo o que eu escrevo.

Mas existem coisas que são importantes demais para que eu deixe de as escrever só porque não concordo com elas.

18 de março de 2013

Brincadeira de criança

Existem sentimentos. Existem crenças sobre esses sentimentos. E existem sentimentos que acompanham essas crenças.

Por exemplo:

Ele se sentia triste. Acreditava que tristeza era sinal de fraqueza. Teve raiva de si mesmo, por se achar fraco, por ter se sentido triste.

Ela sentia raiva. Acreditava que sentir raiva mostrava ingratidão. Sentiu-se culpada, por se achar ingrata, por sentir raiva.

Ele sentiu ciúme. Acreditava que sentir ciúme só era possível caso houvesse posse. Sentiu nojo de si, por se achar possessivo, por ter sentido ciúme.

Ele e ela sentiram medo. Os dois acreditavam que medo era conseqüência de um perigo real. Ele passou a acreditar que os negros eram perigosos. Ela acreditava que considerar os negros um perigo, era um crime racista – e se sentiu pecadora.

Asseverar sobre as crenças -- e sobre os sentimentos “secundários” por elas gerados… é divertido, mas um erro. Você nunca estará errado, no entanto, se apenas tentar descobrir quais eram os sentimentos “primários” – desçamos juntos a escada em espiral que nos leva ao nosso cor. E a partir de lá, e apenas de lá, criaremos nossas próprias crenças. E, com eles, outros sentimentos secundários.

Como a criança, sentindo-se forte, que inventa dragões para matar.

14 de março de 2013

A noite é mais escura…

Usei um novo creme para espinhas e estou me sentindo muito melhor. Mas a verdade é que minhas espinhas estão agora mais visíveis, e não menos!

Meu caro, é assim mesmo: antes de deixar o corpo, as impurezas deverão se aproximar de sua superfície. O processo da cura frequentemente inclui um agravamento dos sintomas – mas isto faz parte, e não se deve temer.

12 de março de 2013

Conselho para os que não estão chorando

A tristeza frequentemente produz um relaxamento nos músculos que é extremamente prazeroso.

Você pode estar triste e em sofrimento, mas provavelmente a sua tristeza não é a causa do seu sofrimento. Descubra qual está tencionando os seus músculos, desfaça-o e chore.

Um desejo

Que sejam médicos antes de se tornar curandeiros.
Que sejam cientistas antes de se tornar profetas.

Que eu seja homem antes de me tornar escritor.

Que ninguém precise ser adulto!, antes de se tornar criança.

9 de março de 2013

Sobre quem eu não sou

Se eu posso dizer de mim que tenho uma qualidade, que seja esta: que, para além de ator, eu seja autor.

Eu não sou o Fantasma, nem o Raoul, nem a Christine. Não sou Romeu nem sou Werther. Não sou Shinji nem a Rei. Não sou Kei nem a Mizuho. Não sou Chico nem Caetano. Não sou Loreley… e me vejo forçado a admitir, a contra-gosto e absolutamente não convencido, que também não sou Ulisses. Não… Tampouco sou Fritz. Não.

A minha história ainda não está escrita. E é por isso que nenhum desses choros é meu. Meu choro ainda está por vir e junto dele meu sorriso. Quem sou eu, meus caros? Quem sou eu?

4 de março de 2013

Era uma vez

Era uma vez um menino que morreu de solidão.

Um dia, ele renasceu como uma fênix.

Mas aí ele morreu de novo.

24 de fevereiro de 2013

Venderam-te o que não querias, por um preço que não sabias.

Não é engraçado… Quando agem para comigo “por caridade”, não só eu sinto que não ganhei nada, como tenho uma estranha sensação de estar em dívida com aquele que foi caridoso.

20 de fevereiro de 2013

Você a ama, mas…

… Gostaria que ela tivesse menos fontes de prazeres.

 

O seu sadismo, eu não o desprezo. Eu o entendo. Entenda-o você também. E considere a sua crueldade um sintoma de um amor doente.

12 de fevereiro de 2013

Para quê e para quem

Nem sempre a nossa literatura a gente consegue fazê-la para os outros. Não deixe de fazê-la por isso.

Fazendo as pazes com a solidão

Havia um tempo em que era apenas eu. Eu acho que eu cheguei a escrever nesse tempo e é provável que eu o encontre em fragmentos antigos, os meus garranchos evidenciando minha idade imatura. Eu ficava à noite sozinho olhando pros céus, do lado de fora da casa, e eu tinha apenas os meus pensamentos como companhia. Às vezes eu experimentava respirar diferente, às vezes eu subia no parapeito, às vezes eu entrava na piscina, às vezes eu tocava violão pra lua, às vezes eu ficava pelado. Eu sinto saudades daquela casa. Que não é mais minha. Eu nunca chorei por aquela casa. Eu tenho tanto por chorar. Eu chorei muito em volta daquela piscina. E eu pensei tanto. E eu me dava bem comigo mesmo. A minha mente era, e continua sendo, muito traiçoeira e terrível. Distorcia as coisas, mudava-as de lugar, fazia-me um merda. Mas, assim como eu tinha essa mente torturada, eu também tinha vários jeitos de me sentir melhor. Ou talvez eu só os tenha desenvolvido precisamente porque eu tinha essa solidão a meu dispor. Eu era sozinho. E a minha solidão foi muitas vezes fonte de grandes prazeres. De grandes alívios. Ai, é verdade, eu sofria muito. Mas não era a minha solidão minha inimiga. Não… E eu acho que eu a tomei por inimiga. Eu gosto de pensar que boa parte das minhas qualidades, inclusive das qualidades que me fazem ser amado, é de responsabilidade minha… Que eu batalhei por essas qualidades a custo de muita solidão. Porque é lindo o homem que consegue viver consigo mesmo. É lindo o homem que sabe que contém em si um inimigo à espreita, mas que o vence com um olhar penetrante e alguns momentos de silêncio. AI! Quando e por que eu fiz do silêncio um inimigo? É verdade, eu falava muito pouco. É verdade, eu era assimétrico nas minhas conversas – e ainda sou. Mas isso não tinha nada a ver com o silêncio que eu gostava de cultivar… Que não era silêncio: eu freqüentemente falava sozinho em voz alta, escutava música alta, cantava alto, ou chorava baixinho. Silêncio e solidão. É, eu definitivamente já escrevi sobre isso. Eu estou revivendo algumas coisas agora. Eu estou fazendo as pazes com amigos antigos, que confundi por inimigos nos últimos anos. Eu estou reganhando a capacidade de fazer, sozinho, com que eu arrepie os pêlos. Isto é, com que eu cause em mim mesmo emoções e sensações fortes. Porque a minha solidão nunca representou uma diminuição da minha capacidade de sentir as coisas. Pelo contrário: várias vezes foi apenas nela e através dela que eu podia sentir. Maldito aquele que me disse que é inútil o sentimento que não é comunicado. Maldito egocêntrico aquele que não suportava o meu silêncio. É verdade, eu tinha sérias e profundas e difíceis cicatrizes que me tornavam desprazeroso comunicar-me com os outros… Eu ainda tenho. Eu ainda sinto vergonha dos meus sentimentos, e ainda é difícil comunicá-los. Mas isso não significa que eu não deva me esforçar por senti-los, do jeito que me for possível. Desse jeito só e silencioso que eu fazia à beira da minha antiga piscina. Escrevendo esses textos difíceis de se decifrar, que não falam sobre os sentimentos, mas como que os indicam, às beiradas, tangencialmente os indicam. É um texto que busca amigos. Amigos na solidão. É na solidão que eu me perdôo, porque é nela que eu percebo a maneira como por tanto tempo eu fui abusado e os motivos que me levaram a me expressar desses jeitos mais tortos e impenetráveis. Eu consigo ver a formação da minha couraça e o momento em que eu a chamei de armadura – e também o momento em que eu me ressenti de tê-la criado. O momento em que eu ressenti ter nascido, porque dói muito. E no entanto… eu sou tão normal. Eu pareço tão bem estruturado. Eu não sôo como esses adolescentes sofredores que morrem todas as noites. Eu sôo… Eu sôo como um soldado voltado de guerra. A psiquê toda fraturada… a capacidade para o prazer profundamente abalada e o sentido da vida e a crença em deus… irrecuperáveis. De que serve um soldado em tempos de paz? Pra que sirvo? Os beijos que me dão, eu os sinto como panos umedecidos colocados por sobre minhas feridas: carinhosos, é verdade, mas um alívio muito mais do que um prazer. E no entanto… eu amo tão intensamente. Quem são esses personagens que te habitam e que você tenta expulsar? Esse padre, essa mulher que apanha, esse veterano de guerra, esse filósofo, esse semideus. Eles precisam de espaço -  e eles não vão te matar. Dar-lhes espaço não vai ameaçar ninguém, definitivamente não a você. Eu concordo: esse homem que vive sozinho, à noite, soturno e lupino, conversando consigo mesmo, não é homem que vai ser amado, violentamente amado, por uma grande mulher (talvez por um amigo). Mas você pode guardar com toda a certeza no seu coração que ele é essencial para que você se torne amável. Ele te torna grande, principalmente porque ele é parte de você. E como é lindo o homem que dá as boas-vindas a todas as suas partes. O que é esse texto e pra quê ele serve? Acho que ele serve para mostrar que eu ainda estou aqui, que eu ainda te amo, que eu ainda tenho muito carinho por ti, e que você sempre pode contar comigo… Basta um pouco de silêncio. Eu prometo tentar te ajudar. Eu sou uma parte de você. É impressionante como a sua capacidade de amar aumenta, quando você se ouve e se acolhe um pouco. Eu sempre vou te acolher. Os que te abusaram moram no seu passado e eles não podem mais me te ferir, porque eu não vou deixar. Basta que fiquemos juntos. Juntos somos mais bonitos e mais fortes. Mas é preciso que você me receba. São meus amigos todos aqueles que se acolheram, que se permitiram ser acolhidos. Eu amo todos vocês.

Enigma

“Consigo aferir o seu estado de saúde com base na qualidade dos seus textos.”

“Ficam melhores quando estou sofrendo ou quando estou saudável?”

“Prefiro deixá-lo na dúvida.”

Ouve teus conselhos de adolescente

O amor não pode se tornar uma distração. Ele não cura sintomas - ele os faz desaparecer. Mas não se engane: eles reaparecerão. Maximizar o amor – superdimensioná-lo – fará apenas com que seus sofrimentos pareçam comparativamente menores. É no pêndulo entre o amor e o não-amor que melhor você vai conseguir se enxergar. Não segure este pêndulo. Não use o seu amor para fugir de si. Use-o para se perceber. Para, então, poder amar mais e melhor. As coisas prazerosas da vida não precisam de mais tempo ou energia do que espontaneamente somos capazes de lhes dar. Atente-se sempre às horas em que você estiver desviando energia de outro lugar, sentimento ou coisa para o amor ou uma brincadeira ou um trabalho (para nós que consideramos o trabalho um prazer, é claro): isso é o começo de um vício e com ele você diminui o amor, a brincadeira ou o trabalho – não o enobrece. Porque a nobreza está em dispensar às coisas apenas a quantidade de tempo e energia que elas nos pedem. O amor tem um tamanho: tentando aumentá-lo, diminui-lo-á.

8 de fevereiro de 2013

5 de fevereiro de 2013

Moralista de si mesmo

"Eu consigo entender por que você afirmaria não haver maus caminhos, mas... Negar que haja maus caminhantes? Isso me parece absurdo!

Principalmente porque contigo eu sinto como se estivesse aprendendo a caminhar!"

"Isto não é uma contradição: aprende melhor aquele que sabe ser impossível o aprendizado - pois, aí, aprende livre."

"Estás me dizendo que aprender é impossível?"

"Estou dizendo que teu conceito de aprendizado é errado. Só poderia haver maus caminhantes em relação a um determinado caminho: julgar que caminham mal significa afirmar a existência de um caminho, de um caminho certo. Mas não há caminhos certos."

"E quanto àqueles que caminham como se houvesse um caminho certo?"

"Quanto a esses? Desejo que ardam como se estivessem no inferno!"

2 de fevereiro de 2013

"Consolo"

Quanto mais intensos os sintomas, mais rápida será a cura.

ou

Cuidado com os sintomas sutis!

Contra os vegetarianos!

Bacon.

31 de janeiro de 2013

(3) Descoberta tardia

Escravos da verdade são escravos também.

29 de janeiro de 2013

Sobre os traumas

As crenças definidoras de caráter - aquelas que as pessoas empunham com mais força e vigor, como bichos assustados correndo por suas vidas - não são baseadas em grandes e majestosas verdades, como nos parece indicar a quantidade enorme de energia que é empreendida ao defendê-las. De fato, na idade em que são escolhidas, a verdade é coisa de pouquíssima importância. Muito mais provável é que essas crenças sejam baseadas em concepções mal formadas e levianas, infantis mesmo, sobre como as coisas deveriam ser - nunca sobre como as coisas são, porque o objetivo é precisamente escapar de algo que é muito assustador, ou muito doloroso, ou muito feio. Haverá bicho-homem nesta terra para o qual isto não se aplique? Para o qual a verdade seja a causa de suas ações e sentimentos? Mas não parece que este animal precisaria sofrer tanto ou mais quanto aquele que antes descrevi? É um animal que sofre, esse homem...

A diferença entre fazer um cálculo e criar um teorema

Escrever é pegar uma partezinha da vida e recortá-lá até que se torne mais ou menos universal.

Por um bom uso dos imperativos

"Eu acredito, do fundo do meu coração, que você não deve fazer isso. Não faça isso."

"Quando você fala assim, eu sinto como se estivesse recebendo uma ordem, e isso me ofende porque eu acredito que as pessoas devem se esforçar para ajudar os outros a tomar suas próprias decisões - e não empurrar-lhes suas vontades!"

"Mas, querida, você está recebendo uma ordem - uma ordem que vem do fundo do meu coração e que tem por objetivo o seu próprio bem. Não confunda receber ordens com a obrigação de cumprí-las: você só deve cumprir as ordens que julgar adequadas. A sua crença de que as pessoas devem tomar suas próprias decisões, dela eu partilho!, mas considero-a um pressuposto da comunicação - e não seu objetivo. Permitamos o uso dos imperativos (assim como dos gritos, dos choros e dos socos), quando forem adequados e sinceros, pois, afinal, não precisamos temê-los, já que estamos entre amigos, todos vacinados. Continuarei a lhe dar ordens, pois confio na sua capacidade de desobedecê-las."

23 de janeiro de 2013

O poder das inferências

“Sou contra cotas raciais, porque não acredito que as pessoas de outras raças são inferiores. Sou a favor apenas de cotas sociais.”

22 de janeiro de 2013

Nós, os desrespeitadores

Este mundo nunca testemunhou um ato de desrespeito. Apenas aconteceu de respeitarmos em maior medida algo diferente. Somos, afinal, criaturas do respeito! Todo desrespeito aos pais - incluindo Deus - é um respeito maior a si mesmo. O desrespeito a uma ordem é um respeito a uma ordem maior. Apenas isso podemos fazer: disso não podemos fugir. E é assim, meus amigos, que devemos lidar com nossos sentimentos e os de nossos companheiros: se eu alguma vez te desrespeitei, foi apenas por um respeito maior a ti.

21 de janeiro de 2013

That awkward moment when…

A sua versão adolescente ao pôr do sol têm mais views do que o clipe oficial.

20 de janeiro de 2013

A seriedade não é uma escolha

As melhores coisas que fiz, fiz brincando.

18 de janeiro de 2013

Não à “reciprocidade”

Desde o início, ele queria que ela fizesse X por ele. Não tinha, no entanto, coragem pra mandar nela (como queria). Então, ele foi lá e fez X por ela. Ela, por ser uma boa moça, se sentiu na obrigação de retribuir o favor; foi lá e fez X por ele.

17 de janeiro de 2013

E nunca antes disso.

O caráter de um amigo deve ser julgado no momento em que vocês discordarem.

15 de janeiro de 2013

Os novos ateus

Eu não preciso que Você me perdoe. Isso é algo que eu mesmo posso fazer.

O objetivo nunca é não sentir

Lá se vai o idiota, tentando não sentir frio. Sabem o que faz? Ele tenta controlar o tremelicar dos dentes!

Nossos filhos gritarão em coro

O que a gente faz para se livrar desse mal estar? O mesmo que uma ave de penas impermeáveis faz para se livrar da água: chacoalha-se!

Meus amigos doentes

A Saúde é uma donzela esbelta, voluptuosa, independente e poderosa. Se você é apaixonado por ela – e faz bem em sê-lo! –, então você deve flertar com ela, cortejá-la, conquistá-la. Deve tornar-se tão atraente que ela não tenha outra escolha a não ser deitar em seus braços.

Mas, se você age como um mendigo, esmolas é o que receberá.

14 de janeiro de 2013

Ou seja

Os sentimentos que temos em relação às ações dos outros são, de alguma maneira, menos intensos que os sentimentos que temos em relação aos sentimentos dos outros. Isso se dá, porque as ações podem contradizer os sentimentos (por coação, insanidade, covardia ou confusão), mas os sentimentos não podem contradizer a si mesmos.

Será?

13 de janeiro de 2013

O básico do básico

Ela não quer que você não a traia. Ela quer que você não a queira trair.

12 de janeiro de 2013

Saber distingüir os inimigos

Cuidado, companheiros, muito cuidado! Recentemente passou a se considerar aceitável uma raiva antiga e profunda, da qual vale a pena nos afeiçoar, para dela não sucumbir.

Vocês os conhecem: esses peixes amargurados que não perdem uma oportunidade de esbravejar, os dentes de fora e o nariz arrebitado, a maneira como são mortos os pandas, caçadas as baleias, depenadas as galinhas, depeladas as raposas, pisoteadas as baratas. Sim, todos nós os conhecemos: eles vivem a vida como se fosse uma punição, porque, afinal de contas, são incapazes de se livrar do pesadíssimo sentimento de que eles fazem mal. Assumem muitas formas, esses assassinos impotentes – como desejam mortos os seres humanos! Em nosso século, costumam atender pela cor verde. Eu lhes disse que os conheciam. Estão, afinal, por toda parte. E não se engane: sempre estiveram!

O ódio que expressam pela humanidade, como vocês devem saber, é apenas um exagero mal feito e deformado do ódio que sentem de si mesmos. Como sofrem! essas pobres criaturas. Odeiam o lugar que ocupam, e culpam-se inclusive do ar que respiram! Se pudessem, escolheriam deixar de existir, para permitir que criaturas mais dignas – como esses inocentes gatinhos – vivam em seu lugar. Como é pesado viver quando a vida é um peso.

Meus companheiros, é preciso que nós – os que ainda respiramos sem culpa, e que não temos medo de deixar no chão nossas pegadas – nos vacinemos contra essa doença. Ora, é preciso mesmo que nos tornemos alérgicos a ela. Rejeitamos essa e todas as outras formas de antropofobia.

Nunca nos esqueçamos que os arcos de violino são feitos de crina de cavalo! E eu não me importaria se fossem feitos de chifres de unicórnio ou de asas de pégaso. E como eu poderia?! Como eu poderia me importar, se deles dependem a quinta, a nona, e todos os grandes?

Se você é incapaz de amar a humanidade por si e por seus amigos, que pelo menos a ame por Elisa.

11 de janeiro de 2013

A crença nos leitores

Para quem escrevemos?

Nas noites frias, foi a crença nos bons leitores que nos manteve aquecidos, a ti e a mim, quando nem em nós mesmos podíamos confiar. Os nossos leitores, no entanto, por mais que sejam inventados, serão sempre leais. E sempre nos conduzirão de volta. De volta pra onde? De volta pra nós.

Estarei te esperando, quando voltares. Porque sou teu eterno leitor. Fica bem.

9 de janeiro de 2013

Pela legitimação dos vícios

Ao Sr. Deputado Federal Osmar Terra (PMDB-RS), que escreveu ao Jornal O GLOBO em 31 de Dezembro de 2012, página 17.

(Infelizmente não consegui manter a compostura até o fim desse texto. Uma pena, porque tenho coisas realmente importantes para dizer, e acho que ainda vai demorar alguns anos até que eu as consiga dizer de maneira satisfatória. Fica publicado aqui esse rascunho.)

Vou fazer o possível para me abster de comentar as inúmeras falácias cometidas ao longo do texto do Sr. Deputado e hei de me concentrar nos poucos argumentos de que se utilizou para defender sua rígida postura de enfrentamento às drogas. Não posso, no entanto, deixar de comentar a ignorância – ou talvez eu deva dizer: a maldade! – com que se confundem, no texto, correlação e causalidade. O exemplo usado pelo autor é, em si, prejudicial ao argumento dele: diz da Suécia, primeiro, que adotou medidas duríssimas de enfrentamento às drogas e, ainda, que lá “morrem assassinadas 30 vezes menos pessoas, proporcionalmente, que no Brasil”. Primeiro: não existe ligação causal entre esses dois fatos. Segundo: o autor segue: “Em outras palavras, se aqui tivéssemos as taxas de homicídio da Suécia, 48 mil pessoas deixariam de morrer assassinadas a cada ano”. Ora, mas como ousa?! Como ousa falar assim dessas mortes, como se fossem tão evitáveis, tão levianas, tão estúpidas como o senhor as descreve! É ultrajante a maneira como pretende colar no seu argumento a idéia de que enfrentar drogas combate homicídios. Se isso fosse verdade, pelo argumento que o senhor mesmo usou, nós – e todos os outros países que enfrentam as drogas, como a Suécia – teríamos taxas de homicídio baixíssimas! Nós não temos. Sabe por quê? Porque a sua correlação estúpida não é suficiente pra causar nada, por mais que você queira, por mais que você escreva bem, por mais que você distorça as coisas, por mais que você fale “em nome da ciência”.

Tirado isso do meu peito, vou tentar prosseguir ao único argumento usado pelo senhor deputado: a saber, que a dependência química leva a uma mudança estrutural definitiva no cérebro que faz com que os interesses e ações do indivíduo sejam direcionados na busca pela droga, em detrimento de todas as atividades produtivas. Segue-se disso que uma postura conivente para com as drogas seria contra-producente, pois geraria custos humanos (perdendo-se indivíduos produtivos) e financeiros (com gastos na área de saúde) extraordinários e irrecuperáveis para o país. O autor chega ao ponto de reconhecer que nosso cérebro possui um “mecanismo ancestral de sobrevivência”, localizado no “centro de recompensa”, e que todas as drogas, “do cigarro ao crack, passando pelo álcool e a maconha”, atuam sobre essa região, com as mesmas conseqüências danosas anteriormente descritas. Ora! Sabe o que mais atua sobre o centro de recompensa do nosso cérebro? Gordura, por exemplo. Bacon e cheddar. Sabe o que mais? Dinheiro. Sabe o que mais? Sexo. Sabe o que mais? Paracetamol. Não é possível que você tenha chegado ao ponto de admitir que todas as drogas são danosas (curiosamente, no entanto, o senhor não defende a criminalização do álcool nem do tabaco), sem com isso perceber até onde vão as limitações do seu conceito de Droga. Você argumenta, inclusive, que as grandes corporações, uma vez legalizadas as drogas, vão “traficar” os baseados. Ora, ora, ora! Pois sabe o que me irrita mais nisso tudo? Ninguém fala da criminalização das casas lotéricas! que corruptamente extorquem dinheiro da população: desviam-no, essencialmente, de bens muito mais essenciais. Adivinha também qual é a classe social que mais perde com isso? Acertou. Ninguém fala da criminalização dos aditivos químicos aos doces de crianças, ou dos joguinhos de iPod que exigem que você “compre créditos” pra continuar jogando. Ninguém fala da criminalização dos Arcades. E você sabe por quê? Porque seria ridículo. Ridículo como você. Você despreza o valor da área do cérebro que você mesmo diz ser importante estudar! Você, apesar de cientista, continua lutando contra inimigos internos, continua tiranizando partes de si, continua sendo um desprezador de si mesmo. É imensurável, eu digo, imensurável! a importância que a Raspadinha do Rio tem para a população. Ninguém nunca vai conseguir calcular a esperança que jogar na loteria permite a alguém que perdeu tudo. Ninguém nunca vai conseguir calcular o prazer de uma gelada depois do expediente abusivo do trabalho: e a calma que isso gera?! Imensurável! E o que falar dos poetas, viciados em amor? Dos amantes, dos viciados em sexo? Dos empresários, que “fazem o país crescer”, nitidamente viciados em dinheiro! O seu argumento é velho. Há séculos, há milênios a humanidade luta contra si mesma: e tem vencido! Você, que é médico, deve conhecer a história do ratinho: com acesso a um botão que ativava impulsos ligados à região do orgasmo em seu cérebro, ele apertou o botão até morrer de fome. Porque o prazer que sentia era, sim, mais importante que as suas funções vitais, era, sim, mais desejável. É incalculável a saúde que as drogas trazem ao país. Pois vocês continuam insistindo aí, feito papagaios, que “temos que lutar contra o alcoolismo”, que “temos de lutar contra o tabagismo”, que “temos de lutar contra o homossexualismo”, que “temos que lutar contra a violência”, mas vocês são todos tolos. Quantos não deixam de ser homicidas porque têm acesso à droga? Quantos não se deparam com a escolha entre bater nos filhos e fumar unzinho? Vocês são PODRES caso prefiram um abstinente covarde e violento. Vocês são podres, podres, podres. Um copo de álcool pode deixar mais calmo, pode fazer um melhor motorista. Ora, quer brincar de correlação? Por que não falamos dos EUA, que é o país que mais gasta na guerra contra as drogas e, veja só, é o país onde mais adolescentes matam em massa em suas escolas. DIVERTIDA essa brincadeira, né? NÃO. Seu merda.

8 de janeiro de 2013

Embriagar-se na medida certa

É de tanta importância, para o bom estudioso, saber quando parar de ler quanto é, para o bom boêmio, saber quando parar de beber.

7 de janeiro de 2013

Desejo não é uma troca

“Se os homens conhecessem o valor da gentileza, não haveria tantos encalhados (sic) por aí”

Leve esse pensamento a sério, e você se tornará uma puta. Uma puta paga com moedas de gentileza, mas uma puta ainda assim.

Dos mais agradáveis paradoxos

Encontra o lugar onde és servo do teu corpo - e lá te descobrirás Senhor.

3 de janeiro de 2013

Profundos demais

Todo alpinista retorna à planície. Também nós, escavadores da humanidade, precisamos fazer o mesmo, e voltar periodicamente à superfície. Não há vergonha em admitir ser sufocante o ar aqui embaixo. Lembre-se que Zaratustra não tinha valor nenhum até descer de sua caverna.

As origens pantanosas das virtudes

Nada mais fácil do que manter-se casto em uma cela individual.
Nada mais fácil do que manter-se profundo em um buraco sem escada.

Os patéticos e a sensibilidade

O mais assombroso e desesperado grito de dor de um homem é apenas um teatro ridículo para o surdo.