28 de dezembro de 2020

Acalenta

Coração que dói não sabe esperar. Sua ânsia é tua ânsia. Tem paciência com ele: o inverno passa e tu o esquentarás.

20 de novembro de 2020

Vela que se apaga

Ficamos como que surdos a nossa própria música. De que modo podemos convalescer, se de nós mesmos abrimos mão? Médico nenhum cura quem da vida já desistiu. Como Ludwig, como Sewerin, devemos compôr não com nossos ouvidos, não com nossos dedos — mas com nossos corações. Que a poesia em nosso interior nos aqueça, luz em meio à escuridão. Luz que esmorece, gota a gota. Veneno que mata devagar. Deixa-me no escuro. Aqui no escuro, onde a vida cai.

Mas como?

 Há frios que vêm de dentro. Também de dentro deve vir o calor que os afugente.

4 de novembro de 2020

Tripla paráfrase

Sob o mesmo sol, banhamo-nos e não banhamos; tanto o sol quanto nós somos já outros. Cada manhã é uma oportunidade de sorver a vida. Tantas auroras ainda estão para nascer! 

3 de novembro de 2020

Não necessariamente partido

 Nada faz escrever tanto quanto um coração incompleto.

Termostáticas

 As palavras vêm no outono do sofrimento. 

Más atribuições

 Hay que domesticarse, pero sin perder la intensidad jamás.

16 de abril de 2020

Ar fresco

Sentimos a alegria como as árvores sentem o vento. Nada demais: apenas a consciência em movimento de estar em contato com o ar.

O ar, é claro, sempre esteve aí. Nós é que às vezes nos esquecemos de balançar.