28 de novembro de 2012

“Não é como se eu estivesse apontando uma arma à cabeça dele”

Não, histérica, definitivamente não é. Mas, por um defeito de formação, ele acha que o teu amor por ele está sujeito ao teu bom humor e à subserviência a ti, o que significa que, sim, ele irá te obedecer, ainda que não estejas lhe apontando uma arma à cabeça. É tua responsabilidade, e de todos nós, apontar o ridículo dessa situação.

Agir sobre as causas

Sim, claro, você pode escovar os dentes para melhorar o seu hálito. Mas seria bem melhor se você simplesmente comesse coisas menos fedidas.

22 de novembro de 2012

Da evidente impossibilidade da infelicidade

O quê?! Você está tentando me dizer que, por causa dessa quantidade abismante de choro que cabe nos teus pulmões, o mundo é infeliz? Você me mostra os arranhões do mundo na tua perna e espera que eu olhe compassivo e apassivado – espera que eu concorde com isso?! Que eu lhe diga, consoante a seu choro, que sim, o mundo é triste, e que nada há a fazer a esse respeito?

Ou ainda, você, que diz, elogioso de si mesmo, e com uma arrogância ímpar: não, não é dos meus choros que tiro essa conclusão, não, é dos choros das milhares de crianças, abelhas e formigas que, incapazes, vítimas do destino terrível que lhes aflige – é de uma certa injustiça universal – que eu concluo ser o mundo o lugar natural da infelicidade!

Ora, seus moleques de espírito! como ousam?! Como ousam?! Pois devem ter a memória deveras curta – ou quiçá deveras longa, deveras perfeccionizadora! - para se sentirem capazes de tamanha cegueira. É impossível provar a infelicidade. Impossível, eu disse, impossível! Enquanto ainda houver respiração, enquanto ainda houver ânsia, enquanto ainda houver cartas de amor e filmes de comédia, é preciso decretar, do mais profundo poço das nossas pensantes almas, que a felicidade está aí. E ela continuará a pulsar, forte, e viva, e contaminará de vergonha e culpa aqueles que vergonhosamente incutiram no mundo a sua tristeza – que declararam-no um injusto, que fizeram dele mau. Ah, essa guerra está longe de terminar, mas o vencedor já se anuncia. Só há um vencedor possível, porque a felicidade está aí e nunca nos deixou. Que a tua torturada mente não possa dizer o contrário, não enquanto um de nós viver, não enquanto um de nós escrever, não enquanto um de nós dançar! O universo é nossa testemunha e vocês todos sucumbirão. Vocês todos declararão com as tuas gargantas cheias de lágrimas, intoxicadas e travadas, que a felicidade está aí e que o mundo não pode ser outra coisa que não belo.

18 de novembro de 2012

Prazer.

Levantei-me de madrugada, pus minha melhor camisa, fiz a barba com o esmero de um adolescente apaixonado, encontrei meu disco de Bach, coloquei-o para tocar, sentei, e fiquei ali, chorando até que o sol raiasse, com o  prazer de dez mil sóis que brilham depois de bilhões de anos apagados, nunca fui tão homem, choro mais poético que as palavras, que o sorriso que o amanhã promete possa contagiar aos outros, como o canto dos pássaros, fim.

15 de novembro de 2012

Ciumento

A principal característica do ciúme não é o sentimento de posse nem a projeção das próprias carências e inseguranças sobre o outro, como várias vezes se supõe, mas uma súbita incapacidade de ser empático aos prazeres do outro.

13 de novembro de 2012

Levando sua moral a sério

“Faze com os outros aquilo que gostarias que fizessem contigo”
 
E o que fazer, caso tu tenhas uma tolerância, por exemplo à dor, muito maior que todos ou, pelo menos, que a maioria dos outros? Cabe impor-lhes dor só porque tu mesmo consegues suportá-la? Pois eu te declaro um perfeito – senão sádico – egocêntrico!

Parece-me claro que os únicos capazes de continuar propagando esse tipo de moralidade são aqueles menos acostumados a olhar os outros – aqueles que soltam alívios de conforto narcisista ao se deparar com um imperativo desses, que diz: “Não é preciso enxergar os outros, muito menos se esforçar para conhecê-los: basta olhar para si, e lá a verdade encontrará”.

A raiva que sinto dessas moralidades grossas que se espalham pelo vento só não é maior que a minha tristeza, ao notar que são precisamente os que as espalham os mais incapazes e menos dispostos de conversar a respeito: buscam conforto e salvação, esses ateuzinhos de merda, não mais em um Deus, é verdade, mas em algo muito mais perverso - nos seus próprios demônios.

4 de novembro de 2012

Não se submeter

Nacionalizar os judeus é apequená-los.

Sou contra o Estado de Israel da mesma forma como seu contra o casamento homossexual: não porque eles não tenham o direito (eles têm!), mas porque o direito que buscam é uma prisão.