22 de novembro de 2012

Da evidente impossibilidade da infelicidade

O quê?! Você está tentando me dizer que, por causa dessa quantidade abismante de choro que cabe nos teus pulmões, o mundo é infeliz? Você me mostra os arranhões do mundo na tua perna e espera que eu olhe compassivo e apassivado – espera que eu concorde com isso?! Que eu lhe diga, consoante a seu choro, que sim, o mundo é triste, e que nada há a fazer a esse respeito?

Ou ainda, você, que diz, elogioso de si mesmo, e com uma arrogância ímpar: não, não é dos meus choros que tiro essa conclusão, não, é dos choros das milhares de crianças, abelhas e formigas que, incapazes, vítimas do destino terrível que lhes aflige – é de uma certa injustiça universal – que eu concluo ser o mundo o lugar natural da infelicidade!

Ora, seus moleques de espírito! como ousam?! Como ousam?! Pois devem ter a memória deveras curta – ou quiçá deveras longa, deveras perfeccionizadora! - para se sentirem capazes de tamanha cegueira. É impossível provar a infelicidade. Impossível, eu disse, impossível! Enquanto ainda houver respiração, enquanto ainda houver ânsia, enquanto ainda houver cartas de amor e filmes de comédia, é preciso decretar, do mais profundo poço das nossas pensantes almas, que a felicidade está aí. E ela continuará a pulsar, forte, e viva, e contaminará de vergonha e culpa aqueles que vergonhosamente incutiram no mundo a sua tristeza – que declararam-no um injusto, que fizeram dele mau. Ah, essa guerra está longe de terminar, mas o vencedor já se anuncia. Só há um vencedor possível, porque a felicidade está aí e nunca nos deixou. Que a tua torturada mente não possa dizer o contrário, não enquanto um de nós viver, não enquanto um de nós escrever, não enquanto um de nós dançar! O universo é nossa testemunha e vocês todos sucumbirão. Vocês todos declararão com as tuas gargantas cheias de lágrimas, intoxicadas e travadas, que a felicidade está aí e que o mundo não pode ser outra coisa que não belo.

9 comentários:

  1. O que seria desse texto sem o itálico?

    Eu sorri ao lê-lo! É um bom texto e é um bom pensamento!

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  2. ah, mas pode... pode tanto...

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  3. 1. Se não houvesse a tristeza, nunca se constaria a existência da alegria;
    2. A felicidade não é o mesma coisa do que ver a vida positivamente;
    3. As pessoas necessitam ser tristes (ao menos um momento na vida) para serem mais sóbrias;
    4. Não me venha falar na não-existência da infelicidade neste blog. Não com postagens em que contempla o você triste. (Lembra-te deste mesmo blog em 2009-2010?)

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  4. Concordo: o título do meu texto não pode ser levado às últimas conseqüências, principalmente se lido de forma literal. Também concordo que as pessoas são tristes, e no texto mesmo isso fica bem claro. Eu não tomei felicidade num sentido literal - até porque não saberia dizer o que é - e também não sei o que "viver positivamente" significa, na verdade... mas parece que o que eu chamei de felicidade não é o mesmo que o que você chama de felicidade, e tudo bem com isso: se você quiser ler "viver positivamente" onde eu escrevi "felicidade", sinta-se à vontade. Não acho tanto que as pessoas precisem ser tristes, especificamente, para que se tornem sóbrias... acho que para isso elas precisam viver. E é improvável, se não impossível, viver sem que, em algum momento, se encontre tristeza; mas o texto não era sobre a inutilidade da tristeza. Tampouco era um texto que fala da inexistência da tristeza. E, bem, de fato, não é um texto que fala da impossibilidade de tristeza, tampouco. É um texto que fala de uma profunda concepção moralizante do mundo: uma crítica, em especial, aos que projetam no mundo a sua própria incapacidade de ser felizes, e tentam arrastar os outros consigo: "Eu não serei arrastado" (mesmo que eu tenha ficado muitas vezes triste, como prova meu blog!), é o que afirma o texto, e talvez seja apenas isso. Eu queria muito saber quem é... não reconheci o estilo.

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  5. Fui eu que comentei! Acho que então foi uma questão interpretativa mesmo, assim como vemos a felicidade e a tristeza de modos diferentes, sendo assim concordo com você, quem quer se arrastar pra tristeza que vá sozinho, ninguém tem o direito de querer levar alguém consigo.
    Enfim, desculpe se fui um tanto quanto taxativo nas minhas argumentações, acho que li o texto de uma outra perspectiva.
    Parabéns por manter o blog atualizado, sempre escreve coisas interessantes. :)

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  6. Poxa, muito obrigado. Fico lisonjeado, mesmo. Eu gosto de pensar que, nesse blog, eu não tenho direito de acusar ninguém de ser "taxativo nas argumentações", rs. Sinta-se à vontade pra comentar outras vezes. É: sinta-se... bem vindo (;

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  7. Obrigado Stefan, sei q não nos conhecemos da melhor forma possível, mas enfim, tudo já passou e agora sou seu leitor. Bom, agora vou começar a comentar com o meu perfil mesmo (sim, já havia comentado outras vezes :P), abraços e até a próxima postagem!

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  8. Acho que tens memória curta quanto aos teus próprios textos, meu amigo...

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