31 de março de 2013

Puro, simples, livre

Como os sentimentos de um homem depois de chorar.

Uma alegria calma, de quem olhou pra morte e voltou.

Sem correntes, sem espinhos, o mais livre dos andarilhos – o mais pequeno dos caminhantes, porque se sabe pequeno.

E ao mesmo tempo enorme, do tamanho do universo, exatamente do tamanho do próprio corpo, porque é corpo.

Corpo - perdoável, salvável, inocente corpo – corpo de criança.

É preciso se desfazer por completo das palavras, pra que elas possam ter finalmente significado. Porque é como se o mundo pela primeira vez tivesse significado – e é verdade: o mundo começa agora.

E agora, agora!, meu amor, agora eu te amo.

30 de março de 2013

Uma mentira a ser desfeita

"Porrada de mãe --- é carinho."

26 de março de 2013

Somos todos bombeiros

Nada do que é humano nos é indiferente.

(Nem a maldade, nem a injustiça, nem a mentira, nem a covardia, nem o desespero, nem a desrazão. Como é difícil ser bombeiro.)

24 de março de 2013

Musculatura

Quando você transa ou se masturba… A sua cara parece como a de alguém que entra em um banho quente ou come um chocolate divino –- ou você tem aquela cara de quem tá na cadeira do dentista?

Às vezes eu tenho a impressão de que a saúde começa nos suspiros.

23 de março de 2013

Não é uma relação causal

O choro é para a tristeza o que as palavras são para o poeta.

22 de março de 2013

Porque temos pernas

A mulher que tem quadril - e não dança – é imoral.

21 de março de 2013

Não ao não-sofrimento!

A história do sofrimento é muito menos importante (e muito menos interessante!) do que a história de como se lidou com o sofrimento.

Não posso dizer o que dói mais – se o sofrimento ou o medo de sofrer mas, com toda certeza, posso dizer qual faz mais mal.

E quem esquece saudável é.

Perdoar é impossível. No máximo podemos esquecer.

19 de março de 2013

O que é mais importante

Não concordo com tudo o que eu escrevo.

Mas existem coisas que são importantes demais para que eu deixe de as escrever só porque não concordo com elas.

18 de março de 2013

Brincadeira de criança

Existem sentimentos. Existem crenças sobre esses sentimentos. E existem sentimentos que acompanham essas crenças.

Por exemplo:

Ele se sentia triste. Acreditava que tristeza era sinal de fraqueza. Teve raiva de si mesmo, por se achar fraco, por ter se sentido triste.

Ela sentia raiva. Acreditava que sentir raiva mostrava ingratidão. Sentiu-se culpada, por se achar ingrata, por sentir raiva.

Ele sentiu ciúme. Acreditava que sentir ciúme só era possível caso houvesse posse. Sentiu nojo de si, por se achar possessivo, por ter sentido ciúme.

Ele e ela sentiram medo. Os dois acreditavam que medo era conseqüência de um perigo real. Ele passou a acreditar que os negros eram perigosos. Ela acreditava que considerar os negros um perigo, era um crime racista – e se sentiu pecadora.

Asseverar sobre as crenças -- e sobre os sentimentos “secundários” por elas gerados… é divertido, mas um erro. Você nunca estará errado, no entanto, se apenas tentar descobrir quais eram os sentimentos “primários” – desçamos juntos a escada em espiral que nos leva ao nosso cor. E a partir de lá, e apenas de lá, criaremos nossas próprias crenças. E, com eles, outros sentimentos secundários.

Como a criança, sentindo-se forte, que inventa dragões para matar.

14 de março de 2013

A noite é mais escura…

Usei um novo creme para espinhas e estou me sentindo muito melhor. Mas a verdade é que minhas espinhas estão agora mais visíveis, e não menos!

Meu caro, é assim mesmo: antes de deixar o corpo, as impurezas deverão se aproximar de sua superfície. O processo da cura frequentemente inclui um agravamento dos sintomas – mas isto faz parte, e não se deve temer.

12 de março de 2013

Conselho para os que não estão chorando

A tristeza frequentemente produz um relaxamento nos músculos que é extremamente prazeroso.

Você pode estar triste e em sofrimento, mas provavelmente a sua tristeza não é a causa do seu sofrimento. Descubra qual está tencionando os seus músculos, desfaça-o e chore.

Um desejo

Que sejam médicos antes de se tornar curandeiros.
Que sejam cientistas antes de se tornar profetas.

Que eu seja homem antes de me tornar escritor.

Que ninguém precise ser adulto!, antes de se tornar criança.

9 de março de 2013

Sobre quem eu não sou

Se eu posso dizer de mim que tenho uma qualidade, que seja esta: que, para além de ator, eu seja autor.

Eu não sou o Fantasma, nem o Raoul, nem a Christine. Não sou Romeu nem sou Werther. Não sou Shinji nem a Rei. Não sou Kei nem a Mizuho. Não sou Chico nem Caetano. Não sou Loreley… e me vejo forçado a admitir, a contra-gosto e absolutamente não convencido, que também não sou Ulisses. Não… Tampouco sou Fritz. Não.

A minha história ainda não está escrita. E é por isso que nenhum desses choros é meu. Meu choro ainda está por vir e junto dele meu sorriso. Quem sou eu, meus caros? Quem sou eu?

4 de março de 2013

Era uma vez

Era uma vez um menino que morreu de solidão.

Um dia, ele renasceu como uma fênix.

Mas aí ele morreu de novo.