15 de dezembro de 2009

Que se dane (?)

E agora, o que eu faço?


11 de dezembro de 2009

Aspas

As aspas servem pra deixar-me um pouquinho mais leve.

"Contemplo a página em branco, nervoso, um pouco tremendo, sei que existem algumas palavras loucas para sair à superfície do papel, das minhas mãos, as pontas das canetas. Sei que essas palavras são bonitas, porque são verdadeiras, mas sei que elas me enchem de medo, porque são verdadeiras. Talvez algum trauma passado tenha me imposto esse medo, essa hesitação, esse tremendo, na minha relação com as verdades sobre mim. Muitas vezes o que me separa da felicidade, é um pouco de mentira.

Sei também que não posso escrever essas palavras. Não sei por que, mas sei que não posso. Talvez eu não esteja preparado, talvez simplesmente não tenha o direito.

Agora, isso não me impede de senti-las, as palavras, borbulhando sob a minha pele, apertando-me a corrente sangüínea, fazendo bater meu coração, e levando-me oxigênio: o gás que serve à destruição, à quebra energética do que eu comi. As palavras são o agente do oxigênio: pegam o que eu comi e transformam em energia utilizável.

E essas palavras são pesadas, são difíceis, estão presas também, os presos são difíceis. O peso talvez nada mais seja que a leveza sendo presa: se a leveza do mundo fosse condensada em um único ponto, teria-se o bigbang, que é super pesado, apesar de ser só a soma de todas as levezas. Ou talvez o big bang seja leve, eu não sei, não estarei lá pra vê-lo.

Eu estou é aqui, vendo o big-bang que acontece dentro de mim, vejo as palavras que deveriam ser leves se juntando e ficando pesadas. Embora eu não possa escrevê-las, eu sei que quando escrevo sobre elas, um pouco delas escapa, e eu fico um tico, só um pouco, mais leve. Isso é bom. Escrevo, não para expulsá-las, ou pra diretamente escrevê-las, mas para servir-lhes uma ponte, pela qual possam depois não agora sair. Um mero caminho.

E de repente, no meio das minhas palavras, várias já escapuliram, elas saem pelas entrelinhas, pelos títulos, pelas vírgulas e pontos, estão em todo o lugar, são o que está além das palavras, porque não podem ser elas mesmas. De repente no meio das minhas palavras, eu estou um pouco mais livre (um pouco mais leve), menos condensado, mais etéreo, mais espacial, maior e mais apto a conquistar o mundo. Um dia eu vou ser leve com as nuvens e simplesmente ser, como elas, ser ursinhos para as crianças e tempestades para os românticos. As nuvens são incríveis, não são?

Serei também invisível para aqueles que só conseguem ver beleza num dia todo azul. São aqueles que não aprenderam a apreciar o que não é claro, o que não é uniforme, o que é algodão-doce, que fica na frente do sol. Não os culpo, também gosto de dias azuis, sem nuvens. Mas os dias nublados são tão especiais.

No entanto eu ainda não sou leve como as nuvens. Talvez o seja como algumas árvores, que balançam ao vento, sem sair muito do lugar, apenas se mexendo, animadas pela brisa divina. O meu medo é o de ter fixado minhas raízes fundo de mais, sem ter me concentrado na minha copa, como uma xerófila, que só encontra água onde é mais profundo. Ah, não, um dia quero florescer, quero chegar ao céu, me aproximar das minhas companheiras nuvens.

Quero tanta coisa, eu, musgo da pedra. Quero escrever. Sinto muita necesisdade de escrever, uma pena que não possa. No entanto vou aos poucos estabelecendo o caminho, por entre textos e não-textos, numa ainda mais misteriosa esperança de um dia florescer. Sou as árvores, as nuvens, as catingas, sou a esperança, as palavras e o oxigênio, sou início, meio e fim, sou apenas o fim. Sou a lágrima que deixei cair."

E esse é um texto triste.

7 de dezembro de 2009

Crítica à melancolia gelatinosa

[perdi a(s) primeira(s) parte(s)]

[…] Ainda mais essencial à minha sobrevivência do questes outros. Por isso também tem crescido meu interesse por biografias, quero tanto que escrevam minha história, às vezes escrevo só para dar conteúdo a meus biógrafos. Olha que inversão cega, esdrúxula!

A verdade é que pouco a pouco nos meus tédios e nos meus ócios, nas minhas leituras e nas minhas terapias, nas minhas paixonites e também nos meus amores, vou cultivando os meus escassos meios de responder a essa questão “de que tenho medo eu?”, uma questão tão fundamental para que eu chegue ao místico “quem sou?”, que promete ulisses.


Eu tinha que fazer gelatina, mas não tem. Tampouco tenho fotos.


Não estou empunhado de meus algodões-doces, é verdade, mas tenho penas e pincéis, com os quais vou-me desenterrando e pintando, descobrindo-me, formando-me. É, é verdade. Todo esse blog, toda a minha “obra”, a minha pouca embora valiosa arte, é uma constante reiteração disso, enfatização dessas perguntas, este meu querer ser.

Quem sou eu? disse por último, antes que as palavras se perdessem num vácuo de levitação. Apaixona-te!, faz tua aprendizagem, ouviu sussurrar. Talvez tenha sido o vento.

6 de dezembro de 2009

Gelatina d'Arte

Ainda me surpreende, e com freqüência considerável, o fato de que das cirscunstâncias mais esdrúxulas, dos tempos mais estranhos, ou da falta deles, às vezes do tédio, às vezes como que do nada, parecem vir-nos as mais interessantes certezas: certezas, porque, sendo pequenas loucuras, não vacilam como fazem outras partes de nós (como aquelas que fazem escolhas e emitem julgamentos). Ah, não, dessa parte esdrúxula e inprevisível de nós só podem surgir coisas que escapam à normalidade e à sanidade dos homens.

E de repente, percebe-se, o mundo todo está afundado, como que embrenhado de um líquido que – enquanto o sustenta numa posição falsamente estável (imagine uma gelatina contendo um barco) – faz dele o mais inavegável dos meios de transporte, mas também o mais saboroso: nos momentos esdrúxulos e nas circunstâncias estranhas sem o tempo, o mundo é feito de gelatina. E então, dessa gelatina, que também nos compreende e compõe (pois somos o barco e também aquilo com o que o envolvemos); dessa gelatina, parecemos extrair aquilo que enquanto artificial e estranho ao nosso barco, parece perfeitamente o complementar.

Extraimos de nossa gelatina a sobremesa de nossa navegação – não o prato principal, majestoso, pesado e imponente em si – mas aquilo que parece encerrar o nosso desejo, nossos anseios, nossa fome, aquilo que, esperançamos, vai saciar-nos para sempre. E não parece incrível, que, embora lidemos todos os dias com nossos pratos principais e nossa ânsia de tê-los em nossos estômagos, parecemos sempre insensíveis a todas as sobremesas que nos envolvem, e sempre surpreendemo-nos quando alguém nos oferece dela?

Ou quando nós mesmo no-la oferecemos.

Acho que é isso. Só mesmo uns rabiscos sem sentido – do jeito que a lógica que não precisa fazer sentido manda –, uma mini festa no meu apê de desorganização metida a irracional, visando a mostrar, a mim e meus outros eus, meus leitores e meus bisnetos, que… a gelatina é gostosa, sabe? E que às vezes encontramo-a quando menos esperamos. E ela é saborosa e doce, e que eu consegui encontrá-la.


4 de dezembro de 2009

Pequena Comédia

Quando abre os olhos, o inteligente sente-se triste e culpado pelo tempo que passou com os olhos fechados.

Besta! Será que não percebe que é impossível espirrar com os olhos abertos?