E de repente, percebe-se, o mundo todo está afundado, como que embrenhado de um líquido que – enquanto o sustenta numa posição falsamente estável (imagine uma gelatina contendo um barco) – faz dele o mais inavegável dos meios de transporte, mas também o mais saboroso: nos momentos esdrúxulos e nas circunstâncias estranhas sem o tempo, o mundo é feito de gelatina. E então, dessa gelatina, que também nos compreende e compõe (pois somos o barco e também aquilo com o que o envolvemos); dessa gelatina, parecemos extrair aquilo que enquanto artificial e estranho ao nosso barco, parece perfeitamente o complementar.
Extraimos de nossa gelatina a sobremesa de nossa navegação – não o prato principal, majestoso, pesado e imponente em si – mas aquilo que parece encerrar o nosso desejo, nossos anseios, nossa fome, aquilo que, esperançamos, vai saciar-nos para sempre. E não parece incrível, que, embora lidemos todos os dias com nossos pratos principais e nossa ânsia de tê-los em nossos estômagos, parecemos sempre insensíveis a todas as sobremesas que nos envolvem, e sempre surpreendemo-nos quando alguém nos oferece dela?
Ou quando nós mesmo no-la oferecemos.
Acho que é isso. Só mesmo uns rabiscos sem sentido – do jeito que a lógica que não precisa fazer sentido manda –, uma mini festa no meu apê de desorganização metida a irracional, visando a mostrar, a mim e meus outros eus, meus leitores e meus bisnetos, que… a gelatina é gostosa, sabe? E que às vezes encontramo-a quando menos esperamos. E ela é saborosa e doce, e que eu consegui encontrá-la.
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