21 de junho de 2021

Palavras rupestres

Ele murmura a melodia que não sabe escrever: 
é ilítero na música —— pobre ateu do coração. 

Seu deus não lhe sorri quando lhe faltam flores; 
abrochado é o seu peito, que não pulsa sob o Sol — processa o oxigênio todo em vão.

Talvez, se a poesia não fosse sem ponta,
seu bisturi cortasse agora outro tipo de veia.

Mas o médico em seu mar de infinito negro
até o fim desdenha de quem sustenta seu débil ensejo.

Há-se de confiar na luz que guia o nanquim pra longe do preto, como no papel cujo branco distrai o olho da artesã. 

Ela é quem teia a mão do destino, que encorda os violinos que em céu de dó e de si abluem o mundo.
 
Sem companhia, sem áurea nem púrpura, carrega no pé as dores de Adão. Desfaz-se da mágoa do vento, cochicha às nozes o que lhe dói, pisa em falso, cai no pranto.

O deus que antes calava agora dança à canção do seu par. As palavras vazias enchem-lhe a boca, leão do deserto do meu barco que encolhe e encalha 
sem nenhum chegar.

A missão do escrever

Fossem minhas alegrias belas como minhas paixões, não precisava eu escrever: porque nem as paixões se haveriam de alegrar, nem as alegrias se haveriam de sofrer.

Curta

Você diz que se pode escrever como artista ou engenheiro. 

Ora, que é o engenheiro senão poeta do concreto?

Ambos envigam os baluartes do coração.