11 de dezembro de 2009

Aspas

As aspas servem pra deixar-me um pouquinho mais leve.

"Contemplo a página em branco, nervoso, um pouco tremendo, sei que existem algumas palavras loucas para sair à superfície do papel, das minhas mãos, as pontas das canetas. Sei que essas palavras são bonitas, porque são verdadeiras, mas sei que elas me enchem de medo, porque são verdadeiras. Talvez algum trauma passado tenha me imposto esse medo, essa hesitação, esse tremendo, na minha relação com as verdades sobre mim. Muitas vezes o que me separa da felicidade, é um pouco de mentira.

Sei também que não posso escrever essas palavras. Não sei por que, mas sei que não posso. Talvez eu não esteja preparado, talvez simplesmente não tenha o direito.

Agora, isso não me impede de senti-las, as palavras, borbulhando sob a minha pele, apertando-me a corrente sangüínea, fazendo bater meu coração, e levando-me oxigênio: o gás que serve à destruição, à quebra energética do que eu comi. As palavras são o agente do oxigênio: pegam o que eu comi e transformam em energia utilizável.

E essas palavras são pesadas, são difíceis, estão presas também, os presos são difíceis. O peso talvez nada mais seja que a leveza sendo presa: se a leveza do mundo fosse condensada em um único ponto, teria-se o bigbang, que é super pesado, apesar de ser só a soma de todas as levezas. Ou talvez o big bang seja leve, eu não sei, não estarei lá pra vê-lo.

Eu estou é aqui, vendo o big-bang que acontece dentro de mim, vejo as palavras que deveriam ser leves se juntando e ficando pesadas. Embora eu não possa escrevê-las, eu sei que quando escrevo sobre elas, um pouco delas escapa, e eu fico um tico, só um pouco, mais leve. Isso é bom. Escrevo, não para expulsá-las, ou pra diretamente escrevê-las, mas para servir-lhes uma ponte, pela qual possam depois não agora sair. Um mero caminho.

E de repente, no meio das minhas palavras, várias já escapuliram, elas saem pelas entrelinhas, pelos títulos, pelas vírgulas e pontos, estão em todo o lugar, são o que está além das palavras, porque não podem ser elas mesmas. De repente no meio das minhas palavras, eu estou um pouco mais livre (um pouco mais leve), menos condensado, mais etéreo, mais espacial, maior e mais apto a conquistar o mundo. Um dia eu vou ser leve com as nuvens e simplesmente ser, como elas, ser ursinhos para as crianças e tempestades para os românticos. As nuvens são incríveis, não são?

Serei também invisível para aqueles que só conseguem ver beleza num dia todo azul. São aqueles que não aprenderam a apreciar o que não é claro, o que não é uniforme, o que é algodão-doce, que fica na frente do sol. Não os culpo, também gosto de dias azuis, sem nuvens. Mas os dias nublados são tão especiais.

No entanto eu ainda não sou leve como as nuvens. Talvez o seja como algumas árvores, que balançam ao vento, sem sair muito do lugar, apenas se mexendo, animadas pela brisa divina. O meu medo é o de ter fixado minhas raízes fundo de mais, sem ter me concentrado na minha copa, como uma xerófila, que só encontra água onde é mais profundo. Ah, não, um dia quero florescer, quero chegar ao céu, me aproximar das minhas companheiras nuvens.

Quero tanta coisa, eu, musgo da pedra. Quero escrever. Sinto muita necesisdade de escrever, uma pena que não possa. No entanto vou aos poucos estabelecendo o caminho, por entre textos e não-textos, numa ainda mais misteriosa esperança de um dia florescer. Sou as árvores, as nuvens, as catingas, sou a esperança, as palavras e o oxigênio, sou início, meio e fim, sou apenas o fim. Sou a lágrima que deixei cair."

E esse é um texto triste.

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