6 de maio de 2013

Confiar é abandonar

O que significa confiar? Quem diz ‘Eu confio em você’, está dizendo: ‘Acredito que você vai tomar a decisão correta’. E se você realmente acredita – se você realmente confia – em alguém, então você não precisa ajudá-lo a tomar nenhuma decisão. Confiar totalmente em alguém é deixá-lo sozinho – como o pai que solta a bicicleta, porque confia que o filho vai conseguir. Confiar é soltar. Confiar é abandonar.

O maior de todos os abandonadores é Deus. Porque Ele fez os homens e depois se foi, dizendo: ‘Confio que fareis o bem’. Deus acredita que faremos um bom uso de nosso livre-arbítrio e que usaremos de nossas capacidades para fazer as coisas certas e boas. E ele não confia e fica olhando! – como a mãe que apenas finge que confia no filho brincando, mas segue-o, nervosa e impecável, com o olhar – não! Deus confia totalmente em nós. Isto é: Deus nos abandonou.

Pensam, meus amigos, que faço aqui um elogio ao abandono? Não mesmo. Trata-se, antes, de uma crítica à confiança! Eu tremo só de imaginar o que seria de nós, caso nossos artistas e pensadores tivessem confiado no mundo e nos homens; o que seria de nós, se tivessem dito “minhas obras são desnecessárias, porque acredito que o mundo vai se ajeitar sozinho”?! Não! Nós, artistas e pensadores, precisamos desconfiar do mundo e dos homens; não acreditamos que seguirão, sem a nossa ajuda, o melhor caminho. Nisso é necessário que sejamos mais responsáveis do que Deus.

Porque eu estou cansado de ver homens se colocando na posição de Deus e “confiando” em outros homens e no mundo, esses que acreditam que “tudo ficará bem no final”, esses que acreditam que “o tempo cura”, esses que escolhem trabalhar de 8h às 18h, esses que não checam o dever de casa dos filhos, esses que não questionam a escolha da profissão dos amigos, esses que têm medo de se intrometer – a confiança que depositam nos outros é a sua desculpa para que se abstenham de cuidar deles. Esses confiadores, esses respeitadores, esses -  - abandonadores! Não confiar: ajudar! Chega de deixar os outros sozinhos. Que confiemos nos nossos pais ou em nossos ex-namorados! - mas de nossos amigos, de nós mesmos, dos nossos amores? Desconfiar sempre! Porque de outro modo seria um crime. De outro modo seria um abandono.

É por lealdade e por amor que desconfiamos de uma mulher. E aqui, como em todo lugar, amar uma mulher não está muito distante de amar a verdade: é preciso fugir das contradições, ser sincero e leal, aliar-se à justiça, buscar o prazer e a liberdade, atentar-se aos detalhes, buscar o que há por debaixo, não ter vergonha da nudez, fazer-se belo, divertir-se com ela, brigar por ela, render-se a ela, olhar as nuvens e sorrir. Não pode ser bom filósofo aquele que tem medo de mulher.

Um comentário:

  1. Sobre deus e alguns homens: eu te abandono, mas, se me abandonar também, saiba que não poderá passar a eternidade ao meu lado. E para julgar o compromisso que deus solta seu rebanho.

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