6 de abril de 2017

Os mestres que queremos ser

Nós, que fomos​ criados sem pai, sofremos duplamente quando tentamos nos superar. Falta-nos a profundeza do amor de um mestre que não nos poupa; de forma que, ao se nos exigir força e enfrentamento, sentimos apenas a dor e interpretamos as ordens como raivosa vingança — pois só isto conhecemos em nosso coração. Precisamos parar de nos vingar de nossos pais, abandoná-los por completo. O pai amoroso de que carecemos, nós mesmos o seremos; e para isso precisaremos receber nossas fraquezas, vícios e defeitos com braços abertos. Mais profundamente do que nos amaram precisaremos nos amar. Acima e abaixo de toda ordem deveremos nos impor com peito aberto e criar amor ali onde não o há. As crianças medrosas que éramos seremos de novo e de novo, mas não para sempre: pois de cada choro retornamos convalescidos e fortes, cada vez mais paternais conosco, cada vez mais carinhosos e firmes — cada vez mais impetuosos e exigentes. O nosso coração nos exige a força. E, uma vez que abdiquemos de a receber do berço, de nosso Pai, uma vez que nos aceitemos órfãos de Deus — aí sim poderemos começar nossa ascensão. Matamos nossos pais para que pudéssemos parir a nós mesmos. Tornamo-nos ateus como quem se torna criminoso. E perdoados — por nós mesmos! — renascemos. Amai. Amém.

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