20 de novembro de 2017

Dialogo de meia idade à beira da cama

Com o olhar de quem conheceu intimamente a solidão. Assim foi que nos cruzamos, ainda que não soubéssemos na época. Desejávamos, ah como desejamos, companhia para nossa alma tão torturada, tão calejada — de quê? Mal o sabíamos nós, mas queríamos que nos advinhassem. A felicidade que juntos sentimos quase destruiu tudo, porque a nossa alma, afinal, se assentava sobre a tristeza. Quando foi que optamos pela alegria? Quando foi que desistimos de fazer silêncio? Quando foi que paramos de condenar os nossos encostos e passamos a tratá-los como vivos, como iguais? Quando foi que nos consideramos vivos? Quando foi que paramos de nos vingar e assumimos a responsabilidade pelo nosso destino, por nossa felicidade? Quando foi que abdicamos da culpa e da vergonha e, sim, mesmo da raiva, para ir além? De onde veio esse ímpeto, meu amor? Por que parecemos tão pouco numerosos? Já sabemos que não somos tão raros quanto julgávamos na adolescência. Já nos descobrimos banais. E, no entanto, tu pareces tão rara. Teríamos conseguido arrancar das fadas da nossa puberdade sofrida as asas de fogo com as quais sonhávamos em ascender? Terá nossa imaginação tão fértil cavado um furo na realidade, teremos tocado o fio do nosso porvir? Como — não era tudo vã juventude? Estaremos nós senis?

Não sei, meu bem. Acho que estamos apenas cansados.

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