Youfulness.
7 de dezembro de 2017
5 de dezembro de 2017
Tirar sangue de pedra
Repara: da pedra nada sai. São sempre os teus dedos que sangram. É ti quem sangra. Perguntas-me "como viver com o coração destroçado?". Ora, a vida e o destroçamento são uma e mesma coisa. Teu erro está em, por clichê que pareça, separar teu coração da vida, como se ela fosse objeto dele. Não: a vida é o que pulsa, a vida é o pulsar.
Os deprimidos e todos os tristes — e neste mundo nós somos maioria — têm diante de si o desafio de respirar com o peito frio; amar com a alma cristalizada (isto é: frágil e dura); sustentar de pé um corpo mumificado, que deseja a imobilidade como o leproso deseja a solidão; nosso coração foi tornado pedra! — e dele a vida nos exige tirar sangue. Insana crueldade.
Mas o foco, meus amigos, não é o sangue, muito menos a pedra. É o tirar. Não me importo que exageres, que sofras, que grites. Esperneia o quanto precisares. Marcha feito imbecil à flama do apocalipse, entrega-te à besta do Tédio, te fode. Do outro lado encontrarás um espelho — — e, enquanto houver reflexão, há luz.
Para tirar sangue de pedra, basta apertá-la com toda a tua força. Deseja ardentemente, até não aguentar (essa parte é fundamental), e então desiste — tão ardentemente quanto. Os violonistas só tiram sons das cordas porque calejaram suficientemente os dedos. De nosso intensamento virá o suco da nossa vida.
1 de dezembro de 2017
Morrer
Do choro nascem duas coisas: a poesia e a saúde. Nossos olhos molhados primeiro turvam, mas em seguida, se sobrevivermos, purificam. Nosso sal dá gosto ao que antes era impalatável. Nossa morte é sempre adubo. De nós mesmos não somos a planta — somos o solo. Deixemos nossas folhas cair. Pereçamos. Ajoelhemo-nos, choremos, caiamos.
Se sobrevivermos, voltamos mais fortes. Se morrermos, os outros herdarão nossa força. Permanecer vivos na fraqueza e na secura — essa é nossa única proibição.
Meu sangue é o teu sangue. Somos todos seiva do mundo.
Contra a piedade
Nossa tarefa enquanto filósofos é dizer as coisas mais terríveis que já se ouviu na Terra — — sem com isso destruir.
Essas coisas terríveis, nós as chamamos de verdades.
E talvez fosse mais exato dizer que destruímos sim: destruímos os alicerces da mentira, da fragilidade e da imobilidade.
Heráclito não descreveu o mundo quando disse que era feito de fogo. Era um apelo, para nós, sempre para nós: fogo. Sejamos fogo!