18 de maio de 2017

Pensamento magro

Desconfie de toda filosofia gorda. Quem para pensar precisa de polissílabos se assemelha a quem para correr precisa de muletas. Vigorous thinking is concise. Em seu habitat natural o pensamento corre, dança, salta, escala, rola — brinca! Longe dos venenos o pensamento medra elástico e esguio, rente à vida, semeado pelo prazer. Não precisa enrijecer ali onde se pede curvatura. Mantém um tônus espontâneo, desesforçado, muito diferente dessa hipertrofia compulsiva a que aspiram nossos mui corretamente chamados “acadêmicos”. Esses livros infinitos que se lê, coletâneas, enciclopédias, listas de exercícios, comentadores, bibliografias secundárias, citações referenciais — tudo isso, quando não é asquerosa gordura, é plástica. Relembremos nosso amigo Arthur, lebre entre elefantes: “Para ter lido tanto assim, deve ter pensado muito pouco!”. Contra essa excessividade do intelecto, cultivemos uma filosofia funcional — leve, definida, ágil. Nossos músculos são mais intensos que extensos. Nosso pensamento, bem como nossa prosa, é de uma finesse calistênica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário