4 de maio de 2017

Ser-para-si

As crianças são tão acostumadas a serem feitas de objeto que acabam crendo que sê-lo é nobre e digno. Assim, mostram à mãe o seu amor advinhando o que ela deseja — e fazendo o possível e o impossível para se transformarem nisso. Toda instituição aproveita esse funcionamento em algum grau: define o que é “desejável” e pune o que não é. As pessoas mais felizes são aquelas que melhor conseguem distorcer os próprios desejos para que se conformem aos desejos do Outro.

Não é assim que queremos amar. Não queremos amar objetos; não queremos amar quem se sujeita. Queremos sujeitos próprios. Queremos senhores de si. Alguém que deseje realizar os próprios desejos, não os desejos de outro alguém.

E para isso é preciso ter desejos próprios. Este é o antídoto contra essa neurose no amor. Ter desejos próprios! Não os projetar, portanto, nem na criança nem no namorado nem no aluno nem no amigo.

Não precisar de outros. Dispensá-los. Conseguiremos amar assim? Quanta imoralidade!

Queremos ser desrespeitados, pois somos poderosos mas não infalíveis. Queremos que desconfiem de nós, pois somos humanos e não tijolos institucionais. Queremos ser desobedecidos, pois não amamos o poder, apenas ojerizamos a fraqueza. Amemos a força do outro, a independência do outro, a rebeldia do outro, a transgressão do outro. Amemos, enfim, o outro — não a imagem que ele tem do nosso desejo.

Comecemos amando o outro — — — em nós.

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