8 de dezembro de 2022

Afrouxar dos punhos

Os sofrimentos também respeitam as regras de conservação da energia e tendem a encontrar formatos mais estáveis e mais econômicos de subsistir. Permanecem na forma de tensão, espalhados nos músculos exercendo relativamente pequeno, porém constante, estresse nos nervos. Como os olhos semi-cerrados de um viajante cansado, que não pode nunca se entregar à doçura do sono completo por medo de perder o ponto de desembarque, assim são os punhos de quem sofre — sempre semi-cerrados, a tudo agarrando com pequena porém constante força, como se o mundo fosse de vidro que cai e quebra e precisa por isso ser estabilizado e segurado. 

Mas o mundo não é de vidro, revela o grande sofrimento. Quando o tensionar pequeno e constante dá lugar à convulsão de choro e berro, quando o córrego de lágrimas e sangue vira mar e tempestade, quando as pernas cedem e os músculos espasmam, e a alma estilhaça e implode... Aí, quando não há opção nem agência diante do escuro, quando a vela da vida se apaga e o frio da solidão congela, quando aquele que vê --- cede a visão. O grande sono vem indistraído, os goles de ar exasperado se soltam, a eletricidade dos nervos se dissipa, e a consciência se entrega. A doçura nas mãos se abre.

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