23 de março de 2017

Mais páthos, menos passione

De quantas coisas padecemos porque não nos deixamos por elas afetar? Quanto do que hoje é veneno não seria bálsamo se corretamente digerido — em pequenas quantidades e antes do prazo da validade —? Quem se faz de dispensa de sentimentos, quem os tranca sem contato com o sol do corpo, quem não tem no seu arsenal bons temperos para lhes conservar a qualidade; — ora! impressiona mesmo que homem assim se torne paraíso para todos os ratos da alma? Que o seu interior se torne uma cultura de vermes e fungos? Falta-lhe o básico de uma higiene espiritual!, vive ele como um moderno sem geladeira, deixando estragar tudo aquilo que lhe deveria servir de alimento, incapaz que é de calcular de quanta comida precisará hoje. Nesses casos, em que se tem o interior todo estragado, a abstinência ascética se justifica: quanto menos contato com a podridão aí, melhor. Mas o consumo não precisa apodrecer: recuperemos com os sábios a arte de comer e a de não comer, a de digerir e a de jogar fora, a de sentir! sem adoecer.

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