16 de março de 2017

Uma semana de Śramaṇa

Uma semana sem forçar nada. Uma semana sem ceder à fraqueza — qualquer fraqueza. Uma semana sem desejar desejar — deseja-se, sim, mas apenas quando o desejo é espontâneo e vem da barriga. Uma semana sem correr atrás de nada, nem do amor — aliás, principalmente não do amor. Uma semana de silenciosa resignação e espera. Que os desejos precedam o eu. Enfraquecer o eu quero, fortalecer o acontece-me. Receber, receber, receber (mas sem pedir): receber o que quer que o mundo traga, e ‘mundo’ inlcui o próprio corpo. Não julgar o que receber, nem o que aparecer, nem o que se tornar. Não se apressar. Uma semana de espera. Uma semana sem analgésicos — aguentando a dor, em vez de contra ela lutar. Uma semana de jornada para dentro. Uma semana sozinho, sem maldizer a solidão. Uma semana de artes marciais e meditação. Uma semana sem compulsar. Uma semana de si mesmo.

Quero que o desamor se marque em minha pele e a solidão se deite com meu coração. Para que eu os torne parte permanente de mim e que eu nunca me esqueça do que é sentir-se sozinho, do que é sentir-se desamado. Que esses sofrimentos se tornem a minha força, e que eu sempre possa, retornando a mim, encontrar-me pronto para — eu mesmo — servir-me de companhia e me amar. Que os céus de minha alma se desnublem, para que de dentro meu espírito brilhe em galope. Para que toda vez que houver amor e houver companhia, eu não os sufoque nem prenda: e, o mais difícil, nem os deseje. Que eu não os precise desejar, porque não sou deles necessitado nem carente. Sequer me enfraquecem, pois deles tiro força. Não. Inteiro eu me quero, e que cada encontro seja uma aumentação de mim, algo que me supera e me alarga e que vai muito além de mim. Não ficar aquém de mim, não precisar de outro para me tornar eu. Dispensar o outro, para que seja doce, dispensavelmente doce, a companhia que ele oferece (assim como o chocolate, que é mais gostoso quando dele não se tem necessidade e quando a ele não se liga nenhuma promessa de amor).

Não prometer, porque a promessa é tentativa de controlar o futuro. Asseverar apenas sobre o presente, porque se é o presente. Não se estender nem para trás nem para frente, mas ocupar precisamente o espaço atual, o espírito concêntrico e cofronteirado ao corpo.

E o que fazer quando o amor não vem e a saudade aperta e a dor dói? O que fazer quando o que o mundo traz não é senão tristeza e sofrência, e o corpo pede arrego e descanso e a alma se começa a revoltar e desejar morrer? O que fazer diante de tudo isso, diante desse querer amor infinito, diante dessa carência que nos habita, nós — órfãos! — ? Nada diferente de antes, mas requerendo-se apenas em maior grau a coragem. Olhar de frente, de lado e de dentro para esses desafetos, para esses desejos, para esses quereres e dizer:

tudo bem.

Ceder. Desistir. Anuir. Aceitar. Chorar. Descansar.

Para, só então, amar.

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