18 de março de 2017

Metáforas de sensibilidade e criação

O maior erro que os homens cometem ao chegar à adultice é o de considerarem-se acabados. De uma hora para outra, devido a uma mistura de cansaço e arrogância, eles param de considerar o mundo um lugar de novidades e encerram as coisas da vida em si mesmas, dando-lhes um caráter estático e compreensível. Como se fossem um arquivo somente-leitura nos computadores de Deus, já escrito e para sempre imodificável. Esquecem que os deuses somos nós e que acima de tudo o arquivo de nossas vidas encontra-se aberto à nossa frente aguardando o nosso input, sensível a tudo o que lhe fazemos. Mais: o software em que rodamos é completamente open source, apenas esperando o nosso código — nós, eternos programadores! Hackeável é o mundo nas nossas mãos e com o código da vida devemos brincar, sempre adicionando umas linhas aqui e ali, sempre tentando descobrir novas capacidades, novas eficiências, novos sentimentos, novas aventuras. Programas morrem quando paramos de desenvolvê-los: não nos transformemos em abandonware.

 
Por isso, meus amigos, é preciso retirar essa fimose da alma, desvirginá-la! O mundo está aí para ser experimentado e doído e sentido. Não nos esqueçamos de como é ler algo novo, assistir um filme sem esperar julgá-lo, ouvir uma canção com o peito aberto, arrematável. Nunca considerar que já se aprendeu a amar, mas permitir-se sentir o desconhecido. Construir o acervo de si mesmo -- todos os dias! De belezas e de alegrias o amanhã está prenhe: descubramo-las enfrentando-o de olhos bem abertos. Tristezas e infortúnios, bem como doenças e tragédias, nos esperam também, mas não devemos nos paralisar por medo, pois isso seria a vitória da morte. Não estamos acabados, não estamos feitos: estamos nos criando, estamos sendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário