10 de abril de 2018

O problema do cansaço

Nossos militares, puritanos, CDFs e operários — por que possuem eles uma moral tão crua? Por que esse arquétipo sequer existe? Todo guerreiro da disciplina precisa ceder em algum ponto: no caso desses, cuja aptidão se voltou para fora, o interior costuma deixar a desejar. Não se trata de crítica. O filósofo e o artista os invejam — e sequer o fazem secretamente. Acontece que nossa atenção, nossa força vital, é limitada. Um problema econômico: algo tem que ceder, algum preço tem que cair. O filósofo um dia tentou trabalhar "como pessoa normal" e não aguentou o esforço: não cabia nele a grandeza de sua alma e mais as necessidades mundanas da organização, repetição e dedicação. Trabalhar é excruciante e exaustivo: tanto para dentro quanto para fora. Por isso a maioria de nós escolhe apenas um — não tem opção senão escolher apenas um. Pensar cansa. O córtex pré-frontal, sem o qual não haveria filosofia, precisou de centenas de milhares de gerações para que se assentasse em um formato sobrevivente. Houve um gasto enorme de energia por parte da natureza em torná-lo o que é — e o quanto não se abdicou em seu nome! Não só "a natureza" in abstractio, meus caros: mas incontáveis indivíduos morreram e continuam a morrer em nome dessa fugaz invenção do cosmos, essa máquina de inteligir que nós nos tornamos. Gerações trabalham num filósofo; séculos de entropia, aniquilação, morte, caos e violência. Não subestimemos o que a inteligência nos requer sacrificar! Compreendamos dos nossos espíritos superiores o burnout moral. 

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