22 de dezembro de 2012

Com carinho

É como se uma mão abrisse o seu peito, mas, em vez de doer, fosse como uma massagem no espírito. E aí, aos pouquinhos, você vai todo se abrindo, quentinho, confortável – nessa hora pode ser que escorra uma lágrima, depende –, e aí você derrete – não de calor, como aqui no Rio –, mas de ternura, você se liquefaz, literalmente torna-se menos sólido, e começa a, verdadeiramente, ocupar todo o espaço do seu corpo (como um líquido a seu recipiente), tornando-se estranhamente cônscio do limitado espaço que você ocupa no mundo; estranho, porque, ao mesmo tempo, você se sente ligado, por sangue ou raiz, àquelas estrelas no céu e àqueles beijos na tv, e as canções fazem especial sentido, viram puro prazer, e essas carícias todas tornam-se gradativamente insuportáveis até que, desistente, você suspira, e é como se suspirassem com você todos os animais e todos os insetos e todas as cores, porque você suspirou o mundo inteiro naquele suspiro, e aí você goza, e isso, você sente vontade de exclamar, isso é a felicidade, isso é um orgasmo.

Um comentário:

  1. Ai, Stefan, "e aí você derrete – não de calor, como aqui no Rio", tão engraçado esse comentário, porque é tão literal e dentro de um texto tão poético... Que... lindo.

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