3 de maio de 2018

Contra o que se deve revoltar

Tudo o que nos apequenou e amoleceu, tudo que justificou o apequenamento, que condescendeu-se à moleza. Tudo que livrou a cara do tapa da natureza e mais ainda aquilo que justificou a fuga do tapa com um esbravejar rouco contra as tempestades. Tudo que em nós fugiu da natureza e tudo que lá fora encontrou refúgio, cama inflável, joelheira, capacete, sistema de segurança, prudência: a competência se conquista cortejando o desconhecido. Quem preferiu castrar antes para não precisar abortar depois. Quem pede cautela, regulação, paternalismo urubuzante, tutela, pastoreio, mão-na-mão e colo. O direito de morrer se conquista vivendo perigosamente. Que o perigo deixe sua marca em nós e que a prudência — nossa prudência — não tenha como alvo nada que nos é exterior. Entendamos as guerras e a bestialidade. Somos monstros! E devemos nos revoltar contra tudo que tentou esconder este fato. Véu dos véus, essa moléstia sobre o espírito! O carinho, meus caros, deve vir depois, depois! Antes: precisamos brincar na lama da natureza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário