16 de maio de 2018

Rio

O caminho de nossa prosa deve tender ao eterno. Não como em Kant, segundo quem deve-se fingir que o eterno já está presente, mas com atenção sincera ao gerúndio. Devemos perenear nosso estilo. Isso significa em primeiro lugar reconhecer que ele não é perene, que ainda não pertence ao panteão divino — e talvez nunca venha a pertencer. Mas isso não nos deve preocupar. Como as abelhas de Rilke, num constante movimento de tornar divino o terreno: do mel do visível ao favo do invisível. O que há de mais eterno, de mais constante, é o devir, esse contínuo  tornar-se da Natureza, uma incansável indisposição à imobilidade. O cansaço é o  Seu oposto: vontade de ficar parado. Por isso fazem parte de nosso caminho fluvial os momentos de laguidão, para que nos restauremos e possamos voltar ao nosso ser-rio (cuja intensidade chega a matar). Devemos descansar antes de sermos consumidos pela vontade de ficar parados. Uma das maiores sabedorias é descansar na hora certa. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário