3 de maio de 2018

Pior

Acima de todas as coisas, deve-se odiar a si mesmo. Com a força de mil dragões e cem tempestades, como se não houvesse tesouro que não se reservasse por detrás do castelo tenebroso de si próprio, e como se só através da raiva e do auto-desprezo esse tesouro se revelasse. Como se tudo de bom só pudesse existir se um ódio maior que a vida, maior que Deus, consumisse tudo e todos, principalmente a si mesmo. Como se de todos os assassinos e estupradores e genocidas e tiranos e psicopatas reunisse-se em si mesmo o que há de pior, o extrato mesmo da maldade, e dessa substância escura não se visse nenhuma luz nem se sentisse nada que não profundo desprezo, nojo, podridão — como se os vilões dos desenhos fossem reais e você os incorporasse com cada célula do corpo. Como se nada nada em você pudesse se salvar ou ameliorar, tudo em si corrupta escuridão e desfalecimento, hanseníase moral da humanidade, fétido feto abortado da luz, morto de propósito com agulhas elétricas enfiadas pelo cu de Maria. Como se nada pudesse ser capaz de perdoar a sua alma e qualquer animal, por inferior e simples seu sistema pensamentivo, imediatamente se enojasse da sua presença e reconhecesse nela supremo perigo e animosidade, como se a própria natureza o rejeitasse em tudo — e apesar disso ainda fosse patético e miserável. Nada, e paradoxalmente, o pior de tudo. Fera da fera, lobo do lobo. Torturador, algoz, assassino. Nada satisfaria mais Deus que a tua aniquilação. 

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